Ricardo Lacerda
O Banco Mundial publicou na semana passada o relatório Perspectivas da Economia Global: menos volátil, mas com crescimento mais lento (edição de junho de 2013). O subtítulo sintetiza a mensagem que a instituição pretende passar para governos e mercados. É legítimo interpretar que a menção à menor volatilidade apenas atenua o fato substantivo de que foi feita uma revisão para baixo do crescimento do PIB mundial em 2013 e de que a economia da zona do euro vai continuar imersa na crise nos próximos trimestres.
Em entrevista concedida ao portal La Presse (http://www.youtube.com/watch?v=nquwp4CHuXA&feature=share), o economista sergipano Otaviano Canuto, vice-presidente do Banco Mundial, comentou que se, de um lado, reduziram-se os riscos mais agudos de crise na zona do euro, de outro as perspectivas de retomada do crescimento econômico e de redução das taxas de desemprego na região permanecerão rebaixadas nos próximos dois anos. Em relação ao crescimento dos países em desenvolvimento, em conjunto, o economista sentenciou que se estabeleceu um ‘novo normal’ em que as economias desses países não deverão voltar a experimentar, nos próximos anos, taxas de expansão semelhantes às do período pré-crise.
Apesar da revisão para baixo em relação à edição do início de 2013, o relatório confirma a percepção de que a economia mundial encontra-se em um processo de aceleração das taxas de crescimento trimestral, mesmo que lenta e gradual e em ritmo muito disperso em termos geográficos. Depois de rever de 2,4% para 2,2% a estimativa de crescimento do PIB mundial para 2013, projeta-se expansão de 3,0%, para 2014, e de 3,3% para 2015.
Para os países de alta renda, a previsão é de crescimento muito lento em 2013, apenas 1,2%, com a zona do euro marcando o segundo ano de retração do nível de atividade para o conjunto da área (ver Gráfico). A Grécia vai enfrentar o quinto ano de queda no nível de atividade e ao final de 2013 o seu PIB terá despencado quase ¼ em relação ao de 2007. Portugal e Espanha terão enfrentado quatro retrações em cinco anos. O Brasil, em seus momentos mais difíceis, nos anos oitenta e noventa, não enfrentou um desmonte econômico dessa magnitude. A projeção para a zona do euro em 2014 é de crescimento inferior a 1%, e para 2015, de apenas 1,5%, o que bem dimensiona o pessimismo em relação às possibilidades da região deixar para trás o período de crise.
A projeção para a economia norte-americana é de crescimento moderado, mas em uma trajetória sustentada, com taxas de 2,0 %, em 2013, 2,8%, em 2014, e 3,0%, em 2015. O Japão deve confirmar em 2013 a recuperação modesta iniciada em 2012, mas sem perspectiva de aceleração de maior vulto nos próximos anos.
Em desenvolvimento
Para os países ditos em desenvolvimento, o relatório estima crescimento de 5,1% em 2013, com variação ampla entre os países. Para o Brasil, projeta uma trajetória de crescimento sustentado, ainda que sem repetir as taxas exuberantes do período 2004-2008. Estima um crescimento de 2,9%, em 2013, com projeção de 4% em 2014 e 3,8%, em 2015, resultados muito próximos aos previstos para o México (ver Gráfico). A China deverá crescer 7,7% em 2013, menos do que previsto anteriormente, resultado próximo ao de 2012, com projeção de 8% e 7,9% em 2014 e 2015, respectivamente.
Fonte: WorldBank. Global Economic Prospects, Volume 7, June 2013.
O relatório busca também avaliar os impactos nas economias em desenvolvimento do rápido declínio dos preços das commodities e da reversão progressiva da política da facilitação quatitativa, como foi acenado pelo banco central americano. O recuo dos preços das commodities tem atingido especialmente as perspectivas de desenvolvimento dos países da África Subsaariana, cujas economias são fortemente dependentes da cotação de metais, mas tem potencial negativo também sobre a economia Brasil e de outros países da América Latina.
O fim do ciclo de expansão monetária dos bancos centrais dos países ricos vai afetar as condições de liquidez no mercado mundial com efeitos sobre o custo de capital nos países emergentes, podendo impactar negativamente o nível dos investimentos e o endividamento de governos e empresas.
Para o Brasil, frente a esse cenário externo marcado pelo elevado grau de incerteza, recuperar taxas médias anuais de crescimento em torno de 3,5 %, como projetado, será um bom feito.
Publicado no Jornal da cidade em 16/06/2013
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