Ricardo Lacerda
A economia brasileira deverá apresentar uma aceleração moderada do crescimento em 2012, na comparação com 2011, mesmo enfrentando um cenário de deterioração do setor externo.
A economia mundial terminou o ano de 2011 pior do que começou. No relatório de abril sobre as perspectivas econômicas do ano, o FMI assinalava que estava em curso uma recuperação do nível de atividade, ainda que de forma débil e desequilibrada, mais forte nas economias em desenvolvimento e menos intensa nas economias avançadas.
Ao longo do ano o quadro foi se tornando mais difícil. Com a deterioração da situação econômica europeia e a emergência da crise das dívidas soberanas no segundo semestre, o relatório de setembro destacava a desaceleração do crescimento e o aumento dos riscos sistêmicos na economia mundial. Na retrospectiva de 2011, em 21 de dezembro, o economista-chefe Olivier Blanchard resume o cenário em termos nada otimistas: “a recuperação de muitas economias avançadas está estancada e alguns investidores contemplam as implicações de uma possível ruptura da Zona do Euro, sendo real a possibilidade de as condições se tornarem piores que as de 2008”.
Além de as condições na Europa virem se deteriorando mês a mês por meio do contágio da crise de confiança, há muita incerteza sobre quais vão ser os seus desdobramentos no futuro próximo, tornando ainda mais frágeis as projeções para a economia mundial em 2012.
ProjeçõesApesar do elevado grau de incerteza, é possível afirmar que o cenário global é de desaceleração do nível de atividade em 2012, em comparação a 2011. O Quadro 1, a seguir, apresenta projeções elaboradas pela OCDE, em novembro, e pelo departamento econômico do Itaú-Unibanco, em dezembro, para o crescimento dos PIBs de 2011 e 2012 de áreas selecionadas.
A OCDE prevê uma recuperação lenta das economias americana e japonesa, com o crescimento passando de 1,5%, em 2011, para 1,8%, em 2012, no primeiro caso, e de 1,1% para 1,6% no Japão, taxas ainda modestas. Para a Zona do Euro,a projeção contempla a redução na taxa de crescimento, de 1,6% para 1,1%, enquanto a China continuaria crescendo a taxa muito elevada em 2012, apenas um pouco inferior ao projetado para 2011.
O departamento de economia do Itaú-Unibanco projeta para 2012 taxa de crescimento de 3% para a economia mundial, inferior aos 3,7% estimados para 2011, com a redução na taxa de crescimento da economia americana, de 1,7%, em 2011, para 1,5%, em 2012, taxa de crescimento negativa no PIB da Zona do Euro (-1,1%), e desaceleração relativamente intensa na economia chinesa, 9,2%, em 2011, e 7,8%, em 2012 (ver Quadro 1).
Quadro 1: Projeção de crescimento do PIB em 2011 e 2012 em áreas selecionadas (%)
Fonte: OCDE e Departamento Econômico Itaú-Unibanco
BrasilO Brasil enfrentou alguns atropelos em 2011. Iniciou o ano embalado pelo intenso crescimento do PIB de 2010, com pressões inflacionárias oriundas tanto da elevação dos preços das commodities no mercado internacional quanto do aquecimento do mercado interno que repercutia nos preços dos serviços. Ao final de 2010 a projeção de mercado para 2011 era de uma inflação anual de 5,32% e de crescimento do PIB de 4,5% (ver Quadro 2). Somente já avançados no segundo semestre, governo e, posteriormente, mercado deram-se conta de que a soma das medidas restritivas ao crédito e o agravamento do cenário externo provocou uma desaceleração no nível de atividade econômica maior do que a planejada para se contrapor à aceleração dos preços.
A percepção das autoridades monetárias, expressa no relatório trimestral da inflação de dezembro de 2011, é de que “a deterioração do cenário internacional cause um impacto sobre a economia brasileira equivalente a um quarto do impacto observado durante a crise internacional de 2008/2009” que provocou a retração do PIB em dois trimestres e resultou na queda de 0,3% do PIB em 2009. A projeção do relatório é de crescimento do PIB de 3%, em 2011, e de 3,5% para 2012, não muito diferente da projeção de mercado (relatório Focus) de 23 de dezembro de 2011.
Quadro 2: Relatório Focus- Projeções de Mercado de Dezembro de 2010 e Dezembro de 2011. Variáveis selecionadas
Fonte: Banco Central- relatório Fócus.
A indefinição sobre qual vai ser o desfecho da crise de confiança na Zona do Euro sombreia as perspectivas da economia mundial. É com um cenário externo incerto e instável que governo e agentes econômicos vão iniciar o ano de 2012, com crescimento mais lento no primeiro semestre e mais intenso no final do ano. O foco da política econômica vai se deslocar da preocupação com a inflação para a necessidade de reativar o nível de atividade econômica, com novo impulso no mercado interno.
Publicado no Jornal da Cidade de 01 de janeiro de 2012
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