Economia
As faces da CRISE
A “CRISE”, também por aqui bem sei, tem andado nas bocas do mundo.
Na maior parte dos casos, porém, com o distanciamento e a abstracção que convém atribuir a fenómenos desta natureza, cingida a meras estatísticas pintadas a cinza e negro, a números de (de)crescimento da economia, a cifras de crescimento das falências e dos despedimentos, a uma contabilidade rotineira do volume crescente de desempregados e pobres.
Na maior parte dos casos, porém, nem se pensa bem naquilo de que estamos a falar, isto é, naquilo em que se traduz efectivamente “viver em CRISE”.
Desde logo porque, com uma visão mais superficial, poder-se-ia até pensar que os sintomas não condizem com a doença. Será que as pessoas deixaram de lotar os restaurantes ao fim-de-semana? Pode-se já circular livremente nas “horas de ponta extra-laborais” de qualquer espaço comercial de grande dimensão? Como vai estar o Algarve, daqui por algumas semanas, no período das férias da Páscoa?
Mas a verdade é que ela, a dita CRISE, económica e social, anda por aí, revelando-se a cada esquina com dados cada vez mais impactantes e com histórias de vida que não podem deixar de impressionar até os mais insensíveis.
São as vendas de vários sectores que caem de forma sustentada.
São os créditos e demais responsabilidades bancárias e afins que não são liquidados no prazo estabelecido, no limite do adiamento concedido ou em ocasião alguma sequer.
São os estudantes do ensino superior que não conseguem pagar as suas propinas.
São as famílias que cortam nos gastos supérfluos para fazer face a realidades cada vez mais restritivas da gestão da sua situação financeira pessoal.
São outros tantos cidadãos que vivem sob capas de aparente conforto financeiro mas que buscam o apoio que a discrição de muitas entidades e organizações que actuam no campo social lhes conferem.
São as fragilidades de carácter psicológico que afectam uma franja crescente da população, consequência do desemprego e do “ambiente” de medo e de falta de confiança que se vive.
É o aumento da violência e da criminalidade a que as autoridades tardam em dar uma resposta cabal, nas grandes metrópoles, nos centros urbanos e até nos espaços rurais.
São as dificuldades das famílias em fazer face às despesas assumidas com o acompanhamento dos seus membros (crianças e idosos) em IPSS – condenando-as, quantas vezes, ao “regresso a casa” e ao eventual abandono face às necessidades de obtenção de rendimento pelos seus relativos.
É a evidente incapacidade de muitos pensionistas na aquisição de medicamentos e no pagamento das taxas moderadoras.
São as restrições económicas com que se deparam as próprias IPSS no cumprimento da sua missão e até na continuidade da melhoria do seu funcionamento (casos há de Instituições de Solidariedade Social que embora com candidaturas aprovadas para novos projectos em sede do Programa PARES, tiveram que desistir devido a dificuldades económicas).
Como se os actuais sinais não fossem suficientes, a verdade é que não se consegue perspectivar já, nem a intensidade plena nem a durabilidade desta CRISE, o que provoca um sentimento de medo e de apreensão no conjunto dos cidadãos, independentemente dos seus estratos económicos.
Daí que, como bem ilustram todos os indicadores esta seja também uma CRISE de confiança, sendo que dados recentes referem que a confiança das famílias atingiu o valor mínimo dos últimos 22 anos.
Por circunstâncias várias, esta CRISE atinge mais fortemente os que agora ficam desempregados e muitos milhares de cidadãos, nomeadamente jovens, que se encontram à procura de emprego. Neste particular, espera-se uma taxa de desemprego com a maior subida desde os últimos 23 anos.
Em concelhos como Braga, entre Janeiro de 2008 e Janeiro de 2009 registou-se uma subida de cerca de 12% do número de desempregados. Embora este número seja significativo, mais preocupante fica, quando reflectimos nos desempregados e jovens à procura de emprego que são retirados das estatísticas porque são encaminhados para programas ocupacionais e cursos de formação profissional. No resto do País a situação não é muito diferente.
Em certo sentido, esta CRISE “apanhou” as pessoas e as famílias num défice de organização e de falta de preocupações com a poupança, o que lhes subtrai os mecanismos de salvaguarda face à situação actual.
Perante este cenário, é obviamente pertinente a adopção imediata de medidas que atenuem os impactos da crise sobre cidadãos e instituições e que criem condições de inversão da presente situação, mormente, no plano económico, através de estímulos ao investimento e à manutenção e criação de empregos.
Algo que uns vêem. Outros não.
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