Economia
Ano 1 depois da Dilma.
MARCELO NERI, 48, é economista-chefe do Centro de Políticas Sociais e professor da EPGE, na Fundação Getulio Vargas, e autor de "Microcrédito, o Mistério Nordestino e o Grameem Brasileiro" (editora da Fundação Getulio Vargas) e "A Nova Classe Média" (editora Saraiva). Escreveu este artigo especialmente para a FOLHA DE S. PAULO.
No dia 1º de janeiro deste ano escrevi neste
espaço sobre as perspectivas sociais do novo ano. Meu ponto era que o impacto
da crise europeia aqui seria conhecido somente no dia seguinte após a passagem
do ano gregoriano. As crises asiática de 1997 e do Lehman Brothers de 2008,
ambas de setembro, repercutiram nas séries apenas em janeiro do ano seguinte (a
crise de desemprego e a ressaca de 2009).
Entre os dois artigos, desci aos microdados
da POF, os mais completos em termos de abrangência dos conceitos de renda e de
despesa. Constatei que a crise aportou no bolso do brasileiro na primeira
semana de 2009. A pobreza sobe 11% quando comparada à última semana de 2008.
Tal como os dados semanais da PME sugeriam, a crise de 2008 não foi nem tsunami
nem marolinha, mas ressaca tão forte quanto passageira.
Nos idos de 2009, divulgamos pesquisa com
dados até dezembro de 2008 sem observarmos nenhum impacto relevante nos
primeiros três meses e meio depois da crise. Desigualdade e pobreza mantiveram
viés de baixa até a reversão da primeira semana de 2009. A ponto de lançarmos
logo novo capítulo do que virou a série "Crônica de uma crise
anunciada".
Apesar das limitações da PME, todas as
grandes inflexões de distribuição de renda dos últimos 20 anos foram
antecipados por ela (www.fgv.br/cps/debatesocial), como aquelas provocadas pela
estabilização do Plano Real, a quebra da desigualdade inercial e a ascensão da nova
classe média (real do Lula). Ou você quer ficar ilhado na última Pnad
disponível (hoje, a de setembro de 2009)?
Lanço no dia 7 de março, às 19h, na Bolsa de
Valores de São Paulo, livro que ensina todos os nós de marinheiro para você
navegar com os emergentes. Fecha parênteses.
A fim de não nos afogarmos na flutuação dos
números, esperamos a virada da maré de janeiro para aferir o efeito da
instabilidade europeia intensificada em agosto.
Janeiro de 2012 coincide com o marco ano 1
depois da Dilma. Pois bem, as variações de 12 meses mostram:
1) crescimento da renda familiar per capita
média da PME de 2,7%, que coincide com o crescimento observado entre 2002 e
2008, apelidado por muitos de "era de ouro mundial", e superior ao 0%
do ano 1 depois da crise de 2008; 2,7% de crescimento também coincide com o
crescimento do PIB total de 2011, recém-anunciado pelo Banco Central. A
diferença é o crescimento populacional de pouco menos de 1%, mantendo a
tendência, observada desde o fim da recessão de 2003, da renda das pesquisas
domiciliares crescerem mais que o PIB;
2) A desigualdade tupiniquim continua em
queda de 2,13% ao ano, ante o 1,11% observado no período de 2001 a 2009,
conhecido como o de "queda da desigualdade brasileira". O Gini
brasileiro foi, de 1970 a 2000, quase uma constante da natureza. A desigualdade
brasileira está hoje 3,3% abaixo do seu piso histórico de 1960;
3) Como consequência, a pobreza segue sua
saga descendente ao ritmo de 7,9% ao ano, superior aos 7,5% ao ano da "era
de ouro" citada. Reduzimos em 2011 a pobreza num ritmo três vezes mais
rápido que o necessário para cumprir a Meta do Milênio da ONU de reduzir a
pobreza à metade em 25 anos.
Na leitura de 2011, não devemos esquecer que
o Pibão e a histórica queda de 16,3% da pobreza observados em 2010 foram ao
sabor da retomada da crise e do ciclo político eleitoral que inflam a amplitude
de comparação.
A economia brasileira estava superaquecida no
começo de 2011, assim como em 2008. A crise, como uma inesperada chuva de
verão, esfriou a inflação de demanda anunciada. Sorte ou não, os resultados
sugerem que o brasileiro, tal como Ayrton Senna, anda bem debaixo de chuvas e
trovoadas de uma crise internacional. Nosso desempenho relativo depois das
crises foi melhor do que a da "era de ouro mundial".
Agora, como se diz, o ano novo brasileiro só
começa na semana depois do Carnaval. Nesse caso, temos de esperar para ver o
que acontece amanhã -primeira segunda-feira após o Carnaval.
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