Ricardo Lacerda
O economista Marcelo Néri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), denominou de Nova Classe Média, correspondente à classe C, o estrato médio da população brasileira que se situava, grosso modo, acima dos 50% mais pobres e abaixo dos 10% mais ricos, estes últimos integrantes das classes A e B, isto no ano de 2001. Em 2009, foram consideradas como pertencentes à classe C as famílias cuja renda domiciliar variava entre R$ 1.126 e R$ 4.854. A classe C seria média no sentido estatístico, ou seja, aufere a renda média da sociedade, noção diversa do que se convencionou chamar de classe média no Brasil, aquelas famílias que tinham acesso aos bens e conforto da modernidade, filhos em escolas particulares, casa própria, automóvel e empregado doméstico.
Estratos de renda A emergência desta nova classe média, em que teriam ingressado 29 milhões de brasileiros entre 2003 e 2009, consistiria no evento de maior relevância na estrutura social brasileira, pois refletiria, na visão daquele pesquisador, o contingente de pessoas que deixou o lado Índia da nossa estrutura social. Nesse período, a classe C passou de 66 milhões para 95 milhões, mais de metade da população brasileira em 2009.
O crescimento da nova classe média, além de retratar a ascensão social de milhões de brasileiros, refletiu a criação de um mercado de consumo de massa na economia brasileira, que se constituiu em um dos elementos centrais do ciclo expansivo recente.
A publicação “A nova classe média: o lado brilhante dos pobres”, (http://www3.fgv.br/ibrecps/ncm2010/NCM_Pesquisa_FORMATADA.pdf), delimita as classes sociais segundo a renda mensal familiar total. Em 2009, foram classificadas como classe E, cujos integrantes são considerados pobres, as famílias com ganho mensal de até R$ 705; a classe D teria como limite superior a renda familiar mensal de R$ 1.126; a classe C tem como limites esse valor e R$ 4.854; a classe B, até R$ 6.329, e; a classe A, acima desse valor. (Ver quadro).
Fonte: CPS/FGV, com base em dados da PNAD do IBGE.
Classe C em SergipeA figura a seguir apresenta o numero de integrantes de cada uma desses estratos de renda em Sergipe, em milhares de pessoas, nos anos de 2001 e 2009, com base nos dados fornecidos pelo estudo do FGV.
Ao longo da última década, considerando os anos de 2001 e 2009, a nova classe média sergipana, identificada como classe C, passou de 23,4% para 38,4% do total da população, tornando-se o estrato de renda com maior contingente populacional.
Em termos absolutos, ver figura, o número de pessoas pertencentes a esse segmento saltou de 431 mil para 788 mil, um incremento de 83%. Nesse período, mais 357 mil pessoas passaram a fazer parte da classe C, o maior incremento entre os segmentos considerados, tanto em termos relativos, quanto em termos absolutos. O estrato referente às classes A e B que, em 2001, contava com 75 mil pessoas registrou, em 2009, 132 mil pessoas, 56 mil pessoas a mais, enquanto a classe D foi ampliada em 54 mil pessoas.
Gráfico. Sergipe: Composição da população por Estratos de Renda. 2001 e 2009.
(Em mil pessoas)
Fonte: CPS/FGV, com base em dados da PNAD do IBGE.
PobrezaPara o estudo da FGV, o estrato E representa a população que se encontra abaixo da linha de pobreza. As famílias pobres em Sergipe representavam em 2001, 43,83% do total, equivalentes a 806 mil pessoas. Na média, essa participação se aproximava da metade da população da região nordestina (49%). Em 2009, o número de pessoas abaixo da linha da pobreza em Sergipe caiu para 551 mil pessoas, ou 26,8% da população na estimativa do estudo da FGV. Isso significa que ao longo deste período, à força do crescimento da economia e das políticas sociais, 255 mil pessoas deixaram a pobreza no Estado.
O crescimento da classe C deve ser comemorado como um importante resultado alcançado no combate à pobreza e sintoma da inserção econômica e social dos brasileiros. Nos próximos anos, a prioridade das políticas é erradicar da pobreza os mais de 500 mil sergipanos, 15 milhões de nordestinos e 29 milhões de brasileiros que ainda se encontram nesta situação.
Publicado no Jornal da Cidade em 24/04/2011
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