Economia
A tempestade perfeita
A poucas horas do início de mais um campeonato na Primeira Liga do futebol profissional, o conceito de “tempestade perfeita” tem diversas possibilidades de materialização consoante a perspectiva dos adeptos.
Para uns, ocorreria caso o supostamente modesto Twente afastasse a nossa equipa da fase de grupos da Liga dos Campeões e logo agora que ela estava a jogar tão bem e até ganhava ao Arsenal….
Para outros, confirmar-se-ia se depois de várias aquisições e de uma exibição de gala contra a supostamente forte Juventus as derrotas recentes tivessem sequência contra a Olhanense, na visita a Aveiro ou no Play-off da Liga Europa.
Para outros ainda, teria lugar se certas investidas milionárias colocassem de uma assentada Álvaro Pereira no PSG, Moutinho no Chelsea e Falcão no Atlético de Madrid a poucos dias do prazo limite para as inscrições de Agosto.
Para quase todos os demais – e salvo honrosas excepções de potências desportivas emergentes – a preocupação com o desempenho desportivo vindouro é quase secundarizada face à debilitada situação financeira dos clubes, que coloca dúvidas sobre a sua capacidade de fazerem face aos compromissos assumidos no final de cada mês.
Embora as suas dívidas sejam bem menores que as das potências dominantes, a ausência de património e de potencial económico que seja gerador de fontes de receita e o seu diminuto poder decisório e negocial limita as suas perspectivas, colocando-os sob o espectro permanente da despromoção ou da própria dissolução.
Na base desta situação, a idênticos e proporcionais desmandos aos que foram cometidos pelos demais concorrentes, associou-se a crescente regulação da actividade e uma análise cada vez mais rigorosa pelas suas diferentes contrapartes, a que se juntaram as condicionantes da actual realidade financeira global.
Segundo a perspectiva deste último grupo de adeptos, e pese embora situações de aperto pontual, é de todo improvável que os “Grandes” se possam deparar com situações análogas às suas, tanto mais que isso poderia pôr em causa os pilares em que pretensamente assenta o próprio modelo competitivo estabelecido.
Fora do plano futebolístico, os sentimentos desta última categoria de adeptos eram partilhados pela generalidade dos Portugueses, nomeadamente quando apreciavam a situação económica e financeira do País face aos seus congéneres internacionais.
Tal como estes clubes de menor dimensão, Portugal também já se habituara a vivenciar e partilhar as agruras das economias desenvolvidas sobreendividadas com outros pequenos países da Zona Euro (como a Irlanda e a Grécia).
Quando se vê confrontado com a iminente derrocada da Espanha e da Itália e com as graves dificuldades que hoje se colocam aos Estados Unidos e até à França - todos eles mergulhados em problemas que não se imaginava pudessem atingir estas proporções – Portugal e os seus pares poderiam ser mesmo induzidos a interrogarem-se sobre a razoabilidade do caminho percorrido.
Todavia, tal como acontece com os pequenos clubes da nossa Primeira Liga, o trajecto para afastar em definitivo o fantasma da “extinção” só pode ser um, mesmo que soluções mais ou menos criativas retardem a adopção das mesmas práticas pelos mais poderosos (com mecanismos de apoio que serão acessíveis por todos, bem entendido): o encetar de uma gestão rigorosa, capaz de corrigir as megalomanias do passado e garantir a afirmação de um potencial de crescimento futuro, dentro de uma lógica de equilíbrio e sustentabilidade.
Até porque, mais cedo ou mais tarde, esse é o único percurso que todos devem seguir, sob pena de se confrontarem, verdadeiramente, com a Tempestade Perfeita.
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