A produção industrial em 2011
Economia

A produção industrial em 2011


Ricardo Lacerda*

O ano de 2011 está sendo pródigo em medidas que sinalizam para uma reorientação da política econômica. A partir de uma leitura que contempla a reversão de um cenário de lenta recuperação para outro de estagnação nas economias avançadas, acompanhada pelo aumento da cobiça pelos mercados em forte expansão dos países de nível de desenvolvimento intermediário, está em curso uma mudança no mix das políticas fiscal, monetária e de desenvolvimento produtivo, cujo cerne parece ser o de assegurar a continuidade do ciclo expansivo da economia brasileira.

A reorientação da política econômica pode estar sendo motivada por uma combinação de percepção do agravamento conjuntural no cenário externo com o entendimento que se apresentam condições externas e internas para uma mudança na qualidade do desenvolvimento brasileiro, para não utilizar o tão demonizado termo modelo de desenvolvimento.

Depois de conquistar a estabilidade e de promover a formação de um amplo mercado interno, em um cenário de profundas transformações na economia mundial, o Brasil estaria preparado para uma nova geração de políticas de desenvolvimento de forte conteúdo social, mais pragmática e menos tributária das expectativas de mercado, uma combinação de ativismo econômico e social com responsabilidade macroeconômica. Sob certo sentido, é o terceiro estágio de uma política iniciada ainda no primeiro governo do Presidente Lula e que foi mudando de contorno progressivamente. Deixando de lado as digressões sobre o longo prazo, cabe registrar que os resultados do PIB Industrial do segundo trimestre e da produção física da indústria de julho acionaram um conjunto de medidas voltadas para a defesa e promoção do setor industrial, cujos alcances ainda são difíceis de serem avaliados.

Produção Industrial

Como alertou o ministro Mantega, o hiato entre o ritmo ainda intenso de crescimento do comércio varejista e as baixas taxas de incremento da produção industrial foi aberto pelo aumento da participação dos produtos importados no mercado interno. Enquanto o mercado de consumo permanece aquecido, a produção física da indústria vem reduzindo a taxa de expansão desde o início do ano. Na série do crescimento em doze meses, a produção física da indústria vem desacelerando em 2011, o que até certo ponto é natural em razão da elevada base de comparação do ano anterior, mas o faz em ritmo muito intenso, caindo de 3,7% em junho para 2,9%, em julho (ver Gráfico).

PIM-IBGE

A série que mostra a taxa de crescimento acumulada ao longo do ano, que capta melhor o comportamento mais recente, representada na linha dupla no gráfico, informa que até julho de 2011 a produção física da indústria teve incremento de apenas 1,4%, em relação ao mesmo período de 2010.
Setores
A redução do ritmo de crescimento da produção física da indústria teve amplo espectro, atingindo os segmentos de produção de máquinas e equipamentos (bens de capital), de insumos (bens intermediários) e os bens de consumo duráveis, semi-duráveis e não duráveis.

No caso do segmento de bens de capital, cuja produção física vinha crescendo rapidamente em resposta ao aumento do uso da capacidade produtiva disponível nos diversos segmentos da economia, a taxa acumulada de crescimento no ano caiu de 8,6% em março de 2011 para 5,5% em julho. Bem mais preocupantes foram as trajetórias da produção física dos segmentos de bens intermediários, bens de consumo duráveis e do segmento de bens de consumo semi-duráveis e não duráveis, que, respectivamente, apresentaram taxas de crescimento acumulado em julho de 0,6%, 1,9% e 0,5% (ver Tabela).



PIM-IBGE

Ainda na Tabela, podem ser observadas as taxas de crescimento das atividades industriais que tiveram os piores desempenhos nesse período: Têxtil (-14,4%), calçados (-7,4%), máquinas de escritório e equipamentos de informática (-5,5%), bebidas (-4,1%) e vestuários (-3,0%) Como são atividades industriais que, em sua maioria, têm forte participação na matriz industrial do Nordeste, a produção industrial de alguns estados da região está sendo fortemente afetada.

Publicado no Jornal da Cidade, em 18/09/2011

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