O IPCA
A meta central de inflação para 2010 e 2011 foi fixada pelo governo federal em 4,50%, com uma margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. No acumulado de doze meses completados em janeiro, o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 5,99%. Ainda que dentro da margem, a combinação da aceleração da taxa de inflação nos últimos meses, do forte incremento do consumo e de indicadores de pressão no mercado de trabalho e no nível de capacidade ocupada conformou um cenário de urgência no enfrentamento da questão inflacionária, inclusive para sinalizar, interna e externamente, o compromisso do novo governo com a estabilidade econômica.Fonte: IBGE- IPCAUm motivo de preocupação adicional é que a variação nos preços dos alimentos tem sido o principal fator de pressão sobre o IPCA. No acumulado de doze meses, completados em janeiro, o preço da alimentação e das bebidas aumentou 10,42%, quase o dobro do índice geral e quase três vezes o índice acumulado em janeiro de 2010, que havia se situado em 3,56%.Alguns analistas têm apontado que a pressão inflacionária tem sido sentida também nos preços de bens e serviços não transacionáveis, ou seja, bens e serviços que o consumidor não tem a opção de adquirir de fornecedores situados em outros mercados, como são os casos das despesas pessoais, cujos preços médios subiram 7,42% nos últimos doze meses, os gastos com habitação, 5,33%, e os de saúde e cuidados pessoais, 5,18%.O gráfico 1, todavia, mostra, sem sombra de dúvidas, que o preço dos alimentos tem sido, de fato, o cerne do problema inflacionário mais recente. Os demais itens praticamente repetiram os números de janeiro de 2010, ainda que alguns venham se mantendo acima da meta para o índice geral.
Alimentos
O preço dos alimentos sofreu forte aceleração a partir de setembro de 2010. Nos acumulado de doze meses de janeiro de 2011, o índice de preços de alimentos consumidos nos domicílios subiu 10,68% e o de alimentação fora dos domicílios teve incremento de 9,9%. O grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas aumentou 9,47%, o feijão subiu mais de 30% e o preço da carne, 27%.A rápida aceleração nos preços dos alimentos tem alguns componentes internos e outros internacionais. Problemas climáticos na Rússia têm causado forte impacto no preço do trigo, e na Índia, sobre o preço do açúcar, que subiu mais de 20% nos últimos doze meses no mercado interno. Mas o fato mais significativo tem sido a retomada do aumento da demanda por alimentos no mercado internacional, puxada pela expansão nos mercados emergentes, com destaque para a China, e no mercado interno.O gráfico 2 ilustra o comportamento do IPCA-Geral e do IPCA- Alimentação e Bebidas, desde janeiro de 2008. A linha contínua representa a evolução do IPCA-Alimentação e Bebidas, no acumulado de doze meses, e a linha pontilhada a evolução do IPCA- Geral. A partir do segundo trimestre de 2008, o índice de alimentação e bebida, em doze meses, empinou fortemente, até atingir 15,79%, em junho. Nos meses seguintes, com a queda abrupta nas cotações das commodities alimentares por conta da crise internacional, a variação positiva deste índice de preço, em doze meses, chegou a cair para o patamar de 3,19%, em dezembro de 2009.No primeiro semestre de 2010, o IPCA- Alimentação e Bebidas foi fortemente pressionado pelas inundações em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas passou a ter um comportamento mais suave já a partir de junho. Desde setembro de 2010, todavia, este índice entrou em uma trajetória perigosamente ascendente, até atingir os 10,42% já citados, no acumulado de doze meses em janeiro de 2011.Em parte por problemas climáticos externos, em parte por conta do aquecimento do consumo no mercado interno e no mercado internacional, os preços dos alimentos no Brasil, no início de 2011, retomaram a trajetória ascendente tal como ocorria no período imediatamente anterior à crise financeira internacional, pressionando o IPCA dos últimos meses. Frente a este quadro, o governo acendeu o sinal de alerta e acionou as políticas de contenção fiscal e monetária.Fonte: IBGE- IPCA