Apenas para comparar, no mesmo período o vizinho estado de Alagoas, que possui uma bacia leiteira mais tradicional, aumentou a produção de leite em apenas 10%. Segundo a PPM, em 2000, a produção de leite de Sergipe equivalia a 52% da produção alagoana e, em 2008, já superava a produção do estado vizinho em 8%. A expansão da bacia leiteira sergipana tem aberto oportunidade para a implantação de novos empreendimentos de beneficiamento e de produção de derivados de leite no interior no Estado e aponta para um novo patamar dessa atividade. O crescimento registrado é extraordinário e revela um novo cenário para a atividade. No presente artigo, examinam-se algumas características da bacia leiteira de Sergipe em termos de sua distribuição geográfica e de sua estrutura de produção.
Geografia do leite
A pecuária é uma atividade de grande importância em Sergipe. O Censo Agropecuário informou que, em 2006, 943 mil hectares foram ocupados com pastagens no Estado, correspondentes 64% do total das terras utilizadas.
Gráfico 1. Sergipe. Produção Anual de Leite dos Principais Municípios. 2008. (Em mil litros)
Fonte: IBGE-Pesquisa Pecuária Municipal de 2008.
Um fato curioso é que a bacia leiteira vem se concentrando na parte de cima do mapa de Sergipe, notadamente no Alto Sertão e, em degrau um pouco abaixo, no Médio Sertão e no Baixo São Francisco. Os seis principais municípios produtores se localizam no território do Alto Sertão: Nossa Senhora da Glória, Porto da Folha, Poço Redondo, Canindé do São Francisco, Gararu e Monte Alegre. Chama a atenção, também, como a produção leiteira tem se expandido em direção ao Baixo São Francisco, especialmente no município de Japoatã, e ao Médio Sertão, em Aquidabã, Feira Nova, Cumbe e Itabi. No gráfico 1 são apresentadas as produções anuais dos 15 principais municípios produtores de Sergipe, em 2008. Nessa lista, apenas um município, Lagarto, situa-se fora da área delimitada mais ao Norte.
Produtores
Um aspecto importante da produção leiteira de Sergipe é o de que ela se constitui uma importante fonte de renda para a agricultura familiar. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, cerca de 2/3 dos estabelecimentos produtores de leite do Estado possuem até 19 cabeças de gado, sendo que 18% têm até 4 animais e 23%, entre 5 e 9 animais. No outro extremo, os proprietários de mais de 500 cabeças de gado são apenas 57, correspondentes a 0,3% dos mais de 16 mil produtores de leite de Sergipe, e os produtores com mais de 100 animais e menos de 500, representam 4%. Ver gráfico 2. A produtividade dos pequenos produtores não se diferencia muito da média da atividade. Com 32% do total de vacas ordenhadas em Sergipe, os produtores com até 19 cabeças respondiam, em 2006, por 30% do leite produzido. Cerca de 1/3 do leite é produzido em estabelecimentos com menos de 20 hectares e 58%, em estabelecimentos com até 50 hectares.
Gráfico 2. Sergipe. Distribuição da Produção de Leite segundo Faixa de Número de Cabeças de Gado dos Estabelecimentos (%).2006.
Fonte: IBGE-Censo Agropecuário de 2006.
Pode-se afirmar que está se formando uma nova geografia do leite em Sergipe. Novos municípios e novos produtores têm encontrado na atividade uma importante alternativa de obtenção de renda e ocupação. Essa expansão tem sido percebida como uma oportunidade para atrair novas unidades industriais de beneficiamento do produto. Como se sabe, persistem no segmento importantes carências econômicas e tecnológicas, mas os dados parecem apontar que Sergipe está pronto para dar um salto em direção à consolidação de sua cadeia produtiva do Leite.
Ricardo Lacerda
Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.
Publicado no Jornal da Cidade, em 05 de junho de 2010.