A rizicultura do Baixo São Francisco (1)
Economia

A rizicultura do Baixo São Francisco (1)


Ricardo Lacerda

O cultivo de arroz na região do Baixo São Francisco Sergipano é costumeiramente visto com pessimismo por parcela expressiva dos técnicos especializados em desenvolvimento rural. Persiste, em certos círculos, um tipo de descrença sobre a viabilidade econômica da atividade e muitos chegam a indicar a necessidade da região, uma das mais pobres do Estado, buscar novas vocações produtivas em complementação ou substituição à atividade.

Quando os dados do censo populacional de 2010 estiverem disponíveis, será possível ter um quadro mais amplo da situação das pessoas que se dedicam àquela atividade. Do ponto de vista produtivo, todavia, é patente o avanço que a cultura do arroz vem obtendo nos últimos anos. É possível, fica como hipótese, que parcela do pessimismo em relação a atividade decorra do difícil período por que ela passou na segunda metade dos anos noventa, especificamente entre 1995 e 1997, que cristalizou uma visão desalentada sobre sua viabilidade.

Produção

A produção de arroz em casca de Sergipe, fortemente concentrada no território do Baixo São Francisco, somou 19, 5 mil toneladas no ano de 1990. Dez anos depois, em 2000, a produção já se situava em 32,8 mil toneladas, 68,6% superior. Os anos de 1995 a 1997, todavia, foram de crise acentuada na rizicultura sergipana.
Depois de atingir a produção de 28,1 mil toneladas em 1994, a quantidade produzida despencou para 14,0 mil toneladas em 1995, com nova queda acentuada em 1996, 8,7 mil toneladas, e recuperação parcial em 1997, com 24,2 mil toneladas. Apenas em 1998, a produção de arroz de Sergipe superou o patamar de 1994.
Em 2008, último ano disponível na série da Pesquisa Agropecuária Municipal do IBGE, a quantidade produzida alcançou 58,6 mil toneladas, 78,1% acima da produção de 2000 e, simplesmente, 201% superior ao resultado de 1990. Não é possível considerar um mau desempenho. (Ver gráfico 1).













Fonte: IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal

Diversa foi a trajetória do outro lado do rio. A produção de arroz no vizinho Estado de Alagoas, em 1990, alcançou 26,3 mil toneladas, 35% a mais do que a de Sergipe. Passou também por uma crise intensa em meados dos anos noventa, entre 1994 e 1996. Depois de um ciclo de recuperação nos anos finais da década de noventa e nos anos iniciais da primeira década do novo século, mergulhou em uma crise de produção em 2002, da qual não mais saiu.

Em 2000, a produção de arroz de Alagoas somou 40,7 mil toneladas, 54,4% acima do resultado de 1990 e ainda 24% superior a de Sergipe. Em 2008, a produção já havia se retraído para 14,0 mil toneladas, 65,6% abaixo do patamar de 2000 e 76% inferior à produção sergipana. (Ver gráfico 1).

A área plantada de arroz em Alagoas caiu de 8.460 hectares, em 2000, para menos da metade, 3.386 hectares em 2008. Em Sergipe, por sua vez, a área plantada continuou se ampliando entre 2000 e 2008, passando de 10.030 hectares para 11.510 hectares.

Municípios

Ao longo da década verificaram-se algumas mudanças importantes na distribuição geográfica do cultivo de arroz entre os municípios sergipanos. Propriá, que em 2000 aparecia como o 3º município produtor com 6,1 mil toneladas, assumiu a liderança e em 2008 alcançou a produção de 17,5 mil toneladas, crescimento de 189,6% no período, representando 30% da produção estadual. Ilha das Flores manteve o segundo lugar no ranking, ampliando a produção de 7 mil toneladas para 11,3 mil toneladas. O município de Neópolis subiu da 4ª para a 3ª posição, com crescimento de 98,1% no período, enquanto Brejo Grande, o maior produtor em 2000, perdeu posição, caindo para o 4º lugar em 2008, registrando ligeira retração, de 1,3%( Ver gráfico 2)




















Fonte: IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal

Não há, portanto, como se referir à crise de produção na cultura do arroz em Sergipe. Mesmo pelo critério de produtividade os avanços são significativos, segundo a pesquisa do IBGE. O rendimento por hectare pulou de 3,8 mil em 2000 para 5,1 mil, em 2008, incremento de 33%. Destaque-se que a produtividade da rizicultura em Sergipe, em 2008, se situava 20% acima da média brasileira e 201% superior à media nordestina. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2008/pam2008.pdf. No próximo artigo, examinaremos outros aspectos da rizicultura do Baixo São Francisco Sergipano.

Publicado no Jornal da Cidade em 10 de outubro de 2010



loading...

- A Cultura Do Milho E A Seca
Ricardo Lacerda A cultura do milho tem grande significado para o semiárido nordestino. Tradicional cultura da região, ao lado da mandioca e do feijão, a produção de milho se expandiu intensamente na última década, mais do que dobrando a quantidade...

- A Expansão Da Cultura Do Milho No Semiárido Sergipano
Ricardo Lacerda Um dos fenômenos recentes mais significativos na evolução da economia agrícola sergipana foi a forte expansão da cultura do milho. Em 2007, o valor da produção do milho superou o da cana-de-açúcar, e, no ano seguinte, ultrapassou...

- A Retomada Da Economia Canavieira Em Sergipe
Ricardo Lacerda A produção sergipana de açúcar restou estagnada por um longo período que se seguiu ao final da segunda guerra mundial. Na safra canavieira de 1948/49, a produção de açúcar no Estado alcançou 47,8 mil toneladas. Em 1974/75, vinte...

- A Especialização Relativa Da Economia Sergipana (2)
Ricardo Lacerda A Pesquisa Agrícola Municipal- PAM, do IBGE, referente ao ano de 2009, trouxe alguns resultados muito positivos para a agricultura sergipana. A cultura do milho, que tem sido a principal atividade agrícola do semi-árido sergipano, manteve...

- O Milho E O Semiárido Sergipano**
Ricardo Lacerda* O que você pensaria se alguém lhe dissesse que a cultura do milho superou a da cana de açúcar em Sergipe? Pois, segundo a Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, a cultura do milho, em 2007 e 2008, se tornou a cultura temporária com...



Economia








.