A descoberta do Professor Marconi
Economia

A descoberta do Professor Marconi


Graças à indicação do Rogerio Ferreira, descobri que o Brasil tem menos indústria hoje em dia do que em 1947, segundo um índice construído pelo Professor Marconi (ou seria Martoni?) da FGV-SP (link)...

Eu imagino o professor interpolando as séries de contas nacionais e outras estatísticas econômicas, e encontrando o resultado de maior participação da indústria em 1947... Eureca! Finalmente! Vou provar meu valor para o Mestre da Luz Que Não Se Apaga! E assim, desengata a carroça de suas costas (para chegar mais rápido), e corre para trazer as notícias para a Estrela d'Alva da Itapeva. Mestre! Consegui provar que a indústria brasileira está na maior crise de toda sua história! Sua participação no PIB é menor do que em 1947!

Admiro muito a falta de dúvida.

Será que o professor em algum momento se questionou sobre o ridículo de seu achado?

Nunca passou pela cabeça do professor que se o índice que ele construiu mostra maior participação da indústria em 1947 (pré-CSN, pré-montadoras do ABC, pré-petroquímicas etc) do que hoje em dia, isso é evidência para qualquer pessoa razoável que seu índice não está medindo um fenômeno relevante?

[Nem passa pela imaginação do professor que algum desavisado pode inadvertentemente duvidar de sua inteligência ou honestidade por ter argumentado que houve desindustrialização no Brasil baseado em uma definição de indústria total que inclui a indústria extrativa, construção e serviços públicos? ] Menos... Este parágrafo em rosa não faz justiça ao artigo do professor Marconi, mas sim reflete a sua caracterização defeituosa pela reportagem do Valor Econômico. (Nota: "O" Anonimo)

Martoni considera que o processo brasileiro de desindustrialização começou na década de 80, quando a renda per capita do país não havia atingido US$ 4 mil.
Alguém poderia confirmar para mim, mas eu tenho uma leve desconfiança que o professor está usando dólares correntes para comparar o PIB brasileiro no tempo. Ai ai ai...

O professor da FGV observa que a mudança no câmbio fez a indústria adotar uma estratégia que ele classifica de "hedge produtivo"
Arrrrghhh! The horror, the horror!

ADENDO (09/29/2010)

Perdi uma hora de minha vida lendo finalmente o texto do Marconi & Barbi, só para descobrir hoje que o Rogerio Ferreira já apontou boa parte das besteiras cozinhadas naquele artigo.

Focando nos aspectos principais (e aceitando os dados construídos pelos autores como verdade), é chocante que os autores não tenham notado que a trajetória da participação da indústria de transformação tem tido uma tendência declinante desde meados dos anos 70 pelo menos. Se vamos acreditar nos dados apresentados no Gráfico 1 de Marconi & Barbi, fica muito difícil concluir que fatores como liberalização financeira ou comercial tenham tido um papel crucial em um suposto processo de desindustrialização brasileiro. Os autores são cegos a esta evidência.

Também é curioso que os autores olimpicamente ignoram que em tempos recentes (1995-2007), o setor de manufaturados de média-alta e alta tecnologia tem (a) mantido sua partipação no valor adicionado agregado (Gráfico 2); (b) aumentado sua participação na ocupação (Gráfico 4); e (c) reduzido sua participação no investimento da indústria (Gráfico 5). Pontos (a)-(b) são inconsistentes com a ladainha histérica de certos autores sobre ‘primarização’ da economia brasileira, enquanto ponto (c) é consistente com o efeito da apreciação cambial barateando o preço relativo do investimento em equipamentos mais avançados tecnologicamente.

Outra grande sandice, entretanto, é a visão dos autores sobre a expansão da compra de insumos intermediários no exterior. É fantástico para nossa indústria que ela possa reduzir seus custos adquirindo insumos no exterior. Mais que isso, é necessário que ela faça isso se quisermos ter uma indústria competitiva. Eu não consigo deixar de me surpreender que ainda existam economistas brasileiros que até agora não entenderam que a economia brasileira entrou em uma crise que durou quase duas décadas exatamente porque nossos planejadores nos anos setenta resolveram endividar o país para “adensar a cadeia produtiva” (ou seja lá qual for o eufemismo para “forçar nossos produtores a pagarem mais caro por seus insumos intermediários”).

Mas o mais engraçado disso tudo é que os próprios resultados econométricos dos autores desmentem algumas das teses que eles defendem. Por exemplo, os autores não conseguem achar qualquer efeito significativo da taxa real de câmbio (não que alguém precise de econometria para saber isso, basta ver o Gráfico 1) e conhecer a trajetória da taxa real de câmbio.


Este professor Marconi...



loading...

- A última Do Professor Costa Oreiro
Assim falou o acadêmico da UNB: “Nenhum defensor da tese de desindustrialização afirma que o progresso técnico só pode ocorrer na indústria, mas sim que a indústria é a principal fonte do progresso técnico !!!! Acredito que a validade dessa...

- Os Panetones Do Sr. Oreiro
Quando alguém aponta um erro na análise, há basicamente três reações possíveis. A melhor delas é agradecer quem apontou o erro, corrigi-lo, e melhorar o trabalho. A segunda é fingir que não ouviu. A terceira, e certamente a pior delas (notando...

- "o" Sobre "desindustrialização: Conceituação, Causas, Efeitos E O Caso Brasileiro" De J.l. Oreiro
Alex, Quando eu decidi começar a escrever revisões críticas de artigos acadêmicos de nossos aprendizes de feiticeiros, eu não sonhava encontrar uma peça com tanto valor de entretenimento quanto um post recente no blog do concorrido Professor Oreiro....

- Desindustrialização No Brasil
Brasil se afasta de países avançados, diz estudo O Brasil entrou num processo de desindustrialização precoce e de distanciamento em relação às economias avançadas, sobretudo as que estão hoje na fronteira do desenvolvimento tecnológico, segundo...

- Desindustrialização Em Perspectiva
Desindustrialização ou lobby?  por João Luiz Mauad Alguém já disse: torture os números e eles confessarão qualquer coisa. De fato, as estatísticas são, hoje em dia, as grandes aliadas dos mistificadores, que as utilizam de forma indiscriminada...



Economia








.