Ao lado de outras medidas importantes, como a expansão dos empréstimos dos bancos oficiais, redução do depósito compulsório dos bancos, isenção de IPI para bens de consumo duráveis, manutenção da política de elevação do salário mínimo, entre outras, logrou-se reverter, em relativamente pouco tempo, o cenário de uma situação de pânico para uma rápida recuperação da economia. No segundo trimestre de 2009, o nível de atividade interna já ensaiava os primeiros passos da recuperação econômica, o que culminou com o excepcional resultado do PIB do 1º trimestre de 2010. Em crises agudas, não se pode esperar por sintonia fina. O remédio tem que ser forte.
A pressão de demanda
Com o aquecimento da economia, inverteu-se a preocupação das autoridades econômicas. A elevação do IPCA no inicio do ano, em grande parte por fatores climáticos associados às chuvas no Sudeste, e diversas indicações de pressão de demanda, levaram o Copom a promover três elevações sucessivas da taxa básica da economia, 0,75 pontos percentuais em abril, 0,75 pp, em junho, e 0,50 pp na última reunião, em julho, elevando a taxa básica para os atuais 10,75%. Ver gráfico 1.
O aumento de 2,7% do PIB brasileiro do 1º trimestre de 2010, na comparação com o 4º trimestre de 2009, na série livre dos efeitos sazonais, apontando para um crescimento anualizado acima de 10%, fez acender o sinal de alerta das autoridades econômicas. Com a supressão dos incentivos ao consumo e as sucessivas elevações das taxas de juros básicas, a economia brasileira perdeu ritmo no 2º trimestre. As projeções atuais são de crescimento em torno de 0.5%, também na série livre de efeitos sazonais. Não há motivo para alarme. Na verdade, trata-se de um ajuste de trajetória frente a uma expansão excessiva do 1º trimestre. Quando o mercado está muito aquecido, manter o mesmo nível de atividade, em um patamar elevado, não é, em algumas situações, um mau resultado.
Alguns analistas prevêem estabilização do nível de atividade, descontando os efeitos sazonais de aquecimento normais da segunda metade do ano, também no 3º trimestre, com a retomada do crescimento acontecendo apenas no último trimestre do ano. Com isso, o PIB de 2010 deverá crescer em torno de 7%, um pouco mais, um pouco menos.
Alguns indicadores são curiosos. O IEDI, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, assinala que o movimento de veículos pesados nas estradas brasileiras, considerado um indicador abrangente do nível de atividade, caiu 0,4%, na comparação entre o segundo e o primeiro trimestre, com dados dessazonalizados.
Atividade regional
A desaceleração da atividade econômica não tem sido uniforme para todas as regiões. O Boletim Regional do Banco Central de julho de 2010, publicada nessa semana, revela que a economia nordestina manteve crescimento acelerado no trimestre março a maio de 2010. (Ver em http://www.bcb.gov.br/pec/boletimregional/port/2010/07/br201007c6p.pdf).
O relatório do Banco Central assinala que a desaceleração da economia a partir do 2º trimestre atingiu todas as regiões do país, com a exceção do Nordeste. No trimestre referente aos meses de março a maio de 2010, o Índice de Atividade do Banco Central- IBC registrou crescimento de 1,4% para o a economia brasileira, frente aos 3,2% no período de dezembro de 2009 a fevereiro de 2010. Enquanto o IBC de junho não se torna disponível, análises internas do Ministério da Fazenda apontam para um crescimento de 0,7% no segundo trimestre (abr-jun), em relação ao 1º trimestre.
A economia do Nordeste, por sua vez, manteve-se aquecida no trimestre mar-mai, com crescimento de 3,3% em relação ao trimestre anterior. As demais regiões desaceleraram fortemente. A economia da região sul cresceu 1,8%; o Centro-Oeste, 1,4%; o Norte, 1,6% e o Sudeste 1,3%. Ver gráfico 2. O relatório do BC lembra que o dinamismo da economia nordestina se traduziu no crescimento de 12,7% nos últimos doze meses encerrados em maio em relação a igual período anterior, de acordo com o IBC.
Um dos fatores da desaceleração da economia brasileira no trimestre mar-mai foi o comportamento do consumo doméstico, que havia registrado crescimento 2,9% no trimestre anterior e retraiu-se para 2,4% no último período.
A elevação da Selic e a retirada dos incentivos ao consumo adotados no auge da crise já estão se fazendo sentir na desaceleração do nível de atividade econômica com indicações de reduzido crescimento no segundo e no terceiro trimestres. Ainda que a elevação do PIB de 2010 em torno de 7% já esteja assegurada é importante sinalizar positivamente para que consumidores e empresários mantenham a confiança em relação à continuidade do crescimento. Já não seria a hora de parar com a elevação da taxa de juros? Não é hora da sintonia fina funcionar?
* Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.
Publicado no Jornal da Cidade em 08 de agosto de 2010