Economia
Yuan: a pequena muralha da China
Se ainda associa a China aos seus vastos arrozais, ao legado monumental do seu passado Imperial, a uma cultura e economia fechada sob o pulso firme do regime comunista o mais provável é que ande a ver demasiados filmes das décadas anteriores.
No passado mês de Agosto, os dados relativos à economia mundial consagravam a China como a segunda maior economia do mundo, imediatamente atrás dos Estados Unidos e ultrapassando o Japão, que detinha essa posição de há 40 anos a esta parte.
Porventura, poderia já ter constatado o poderio chinês nas notícias que invocavam a invasão dos produtos asiáticos nos mercados europeus como a razão de ser do esvaziamento de diversas indústrias tradicionais.
Ou, seguramente, ter-se-ia já apercebido que as “antigas” lojas dos trezentos de bairro deram lugar a mega-superfícies comerciais, com uma gama infindável de produtos discount, com uma qualidade não desprezível, um pouco por todo o País.
Nesse particular, mais do que um caso atípico, a “invasão chinesa” atesta de uma estratégia sustentada de conquista dos mercados externos, a uma escala global, quer como meio de escoamento da sua produção, quer, nalguns casos, como forma de assegurar o aprovisionamento das necessárias matérias-primas.
Percebe-se, pois, que a China surja hoje como principal parceiro comercial de diversos países do Continente Africano ou da América Latina, não a título de solidariedade entre países em vias de desenvolvimento, mas graças à pujança e crescimento de uma economia verdadeira “capitalista” e globalizada.
Olhar para os diferentes dados estatísticos da China serve apenas para confirmar essa presunção óbvia: a China é hoje uma verdadeira potência económica e poderá a breve trecho destronar os Estados Unidos da liderança das economias internacionais.
O país mais populoso é também aquele que mais consome energia e que mais gases emite para a atmosfera, razão pela qual tem assumido uma postura intransigente de rejeição dos vários acordos internacionais na esfera ambiental.
Também em Agosto ficou a saber-se que a China registou, pelo terceiro mês consecutivo, um excedente na balança comercial, na ordem dos 20 mil milhões de dólares (cerca de 15,7 mil milhões de euros). Para tal, realizou exportações no montante de 139,3 mil milhões de dólares e efectuou importações que atingiram os 119,27 mil milhões de dólares, cifras que se assumem como as segundas mais altas da história das trocas comerciais do país (com aumentos de quase 35%, cada).
Visto do lado Ocidental, este mercantilismo chinês vem causando um significativo incómodo, em particular nos Estados Unidos, razão pela qual os principais agentes políticos e económicos americanos vêm defendendo a necessidade de uma valorização da divisa chinesa: o Renminbi ou Yuan.
A ideia subjacente é a de que um potencial fortalecimento da moeda chinesa retire competitividade às suas exportações e incentive as importações, assim contribuindo para acelerar a recuperação das economias ocidentais.
Caso tal não aconteça, há já quem sugira que a Administração Obama deve avançar com sanções comerciais contra a China, o que parece não estar a preocupar os responsáveis do Governo Chinês, que garantem não ser permeáveis às pressões externas na definição das suas políticas monetárias.
Até ao momento, reconhecendo-se que a China ainda precisa de reforçar outras vantagens competitivas mais estruturais, ao nível das qualificações, da capacidade de inovação, da eficiência dos mercados e das empresas, terá que se apontar aos baixos custos salariais (que tanto encantaram o então Ministro da Economia Manuel Pinho) o principal sucesso dos seus produtos nos mercados internacionais.
Acontece, porém, que os desequilíbrios de rendimento criados pelo crescimento acelerado das últimas décadas, as notícias sobre os primeiros episódios de escassez na contratação de recursos humanos, as reivindicações de aumentos salariais (até por contraponto com os níveis remuneratórios dos recursos estrangeiros na China) estão a criar fortes pressões para um aumento progressivo dos salários e a inerente redução de tal vantagem competitiva nos próximos anos.
E, nesse cenário, a manutenção de uma divisa de baixo valor, cada vez mais utilizada e reconhecida a nível internacional (ainda que não totalmente convertível em outras moedas) – como resulta de várias iniciativas que vêm sendo encetadas pelo Governo Chinês ao nível das trocas comerciais e dos mercados financeiros - pode bem ser o segredo do prolongamento do actual sucesso chinês.
O “pequeno” Yuan seria assim a nova muralha da China...
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