Uma medida; dois pesos
Economia

Uma medida; dois pesos


Imaginem que alguém tenha escrito o seguinte:


“(...) Basta ver os últimos números das contas externas correntes chinesas. O processo de deterioração vem ocorrendo de forma praticamente contínua, mês após mês. O superavit comercial sofreu um verdadeiro colapso. No acumulado do ano, o saldo da balança comercial (exportações menos importações de mercadorias) diminuiu 77% em relação a igual período de 2009.

O crescimento das importações vem superando o das exportações por larga margem.

(...)

Com a moeda chinesa valorizada, fica barato importar e viajar ao exterior. Por outro lado, as exportações se tornam menos competitivas, e o país fica mais caro para turistas do exterior.”

Quem quer que possa ter escrito isto seria tachado de insano, certo? Onde já se viu, dizer que o yuan está valorizado a ponto de levar a um colapso do superávit comercial chinês? A discussão não é sobre a subvalorização da moeda chinesa?

Confesso, porém, que ninguém escreveu exatamente isto. Se substituirmos, contudo, os adjetivos correspondentes à China por suas contrapartes no que se refere ao Brasil, o texto original é de Paulo Nogueira Batista Jr., na sua coluna da Folha de S. Paulo semana passada.

E também é verdade que teríamos que adaptar mais algumas coisas. O saldo brasileiro entre janeiro e março deste ano caiu um pouco menos do que o chinês (70% contra 77%) medido contra o mesmo período do ano passado. E o ritmo de crescimento das importações é muito maior na China (65% no primeiro trimestre) do que no Brasil (36%). O gráfico abaixo mostra a evolução das importações dessazonalizadas em ambos países, sugerindo que não se trata apenas de base deprimida de comparação, mas de forte aceleração na margem.



Medido em 12 meses, então, o superávit chinês caiu de um pico de US$ 317 bilhões em março do ano passado para US$ 150 bilhões nos 12 meses até março de 2010. No mesmo período o saldo brasileiro em 12 meses caiu de US$ 25 bilhões para US$ 23 bilhões. Curiosamente no Brasil o aumento das importações e conseqüente redução do saldo comercial resulta da moeda apreciada, mas, no caso da China... resulta do que mesmo?

A questão é que a mesma informação (a queda do saldo comercial) é vista como resultado da apreciação cambial, ainda que a taxa de câmbio real esteja hoje mais depreciada do que estava em meados de 2008. No caso da China, em que há modesta apreciação real no período (a inflação foi mais alta na China que nos EUA), a hipótese sequer é cogitada.

Não se dá a menor atenção à diferença entre o crescimento da demanda doméstica (acima de 10% ao ano na segunda metade de 2009) relativamente ao PIB (7.7%). Uma conta simples mostra que, como as exportações (contas nacionais) cresceram a 8% ao ano no período, as importações teriam que crescer quase 33% ao ano para fechar a conta (cresceram 31% porque a variação de estoques colaborou).

Em outras palavras, o pessoal quer mais consumo, quer investimento crescendo, defende o gasto público, mas redução da balança comercial, só na China.



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