Uma experiência inesquecível
Economia

Uma experiência inesquecível


Ontem participei da colação de grau das turmas de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da FAAP, cerimônia para a qual fui honrado com o convite para ser o patrono das turmas. Mais uma vez, parabéns aos formandos.

Copio abaixo meu discurso:
Boa noite a todos.
Quero, em primeiro lugar, agradecer de coração o honroso convite que me foi feito para ser o patrono desta turma (isso apesar de haver séria controvérsia quanto à existência de economistas com coração). Tive, há muitos anos (mais do que gostaria de me lembrar), a honra de ser um dos professores homenageados em uma cerimônia como esta, mas é a primeira vez que me chamam para ser patrono e, portanto, também a primeira vez que sou chamado para fazer um discurso nesta capacidade. Não é fácil, acreditem, e espero sinceramente que me perdoem se não sair da forma como eu mais gostaria. Pelo menos (e se trata de promessa que não fiz apenas para o Luiz Alberto, mas para mim mesmo) pretendo ser breve: se for aborrecido, não o serei por muito tempo!
A bem da verdade, refleti muito sobre o que poderia falar aqui e acabei concluindo – espero que acertadamente – que o mais apropriado fosse contar para vocês (talvez “alertar” fosse o verbo mais adequado) o que se espera de quem sai da faculdade e vai enfrentar o mundo profissional. Na minha experiência, foi algo como o fim da infância (ou da adolescência); talvez por isso eu tenha prolongado tanto os meus estudos, voltando do doutorado já com mais de 30 anos (e dois filhos!).
Eu bem sei que a imensa maioria, se não todos aqui, já tem vivência no mercado de trabalho; consequentemente não estou falando para noviços, mas para jovens profissionais que irão enfrentar desafios consideráveis, se é que já não os enfrentaram. Neste último dia de vocês como alunos, pretendo ser um dos últimos a imaginar que sou capaz de ensinar-lhes algo de um púlpito.
Quando me formei, há pouco menos de 30 anos, tanto eu como meus colegas víamos o fim daquele período como a libertação definitiva. Um diploma era praticamente a garantia de uma vida segura, seja como profissional de uma empresa, seja como empresário, ou mesmo como professor (minha ambição durante um bom tempo). O exemplo dos nossos pais era claro e não acredito que esperávamos nada muito diferente daquilo que eles tinham enfrentado.
Foi minha primeira grande previsão errada, prenúncio dos muitos equívocos que cometi ao longo da carreira. O mundo havia mudado e continuou mudando. Poucos anos depois de me formar testemunhei, como seus pais, alterações radicais: o Muro de Berlim caiu, a União Soviética desapareceu, a China emergiu, assim como a Índia vem fazendo, e, mais recentemente, países desenvolvidos foram tomados por uma crise sem precedentes desde a II Guerra, eventos históricos em larga escala.
Neste contexto, o Brasil também mudou: no ano da minha formatura elegíamos o primeiro presidente civil depois de 21 anos de regime militar. Precisamos de mais alguns anos para a primeira eleição direta para presidente, que, felizmente, se tornou uma rotina no país. E precisamos também de um tempo extra para domar a inflação, flagelo de gerações no Brasil que, creio, vocês não tem sequer idade para recordar (ainda bem!).
Esta curta descrição não pretende ser exaustiva (afinal de contas, minha promessa de brevidade continua valendo), nem acredito ser este o melhor momento para reminiscências históricas. É apenas uma lembrança, ou um aviso, acerca do potencial de mudança, por mais que nossos hábitos tendam a sugerir que o futuro será apenas uma extrapolação do presente. Não é e, se há alguma lição a tirar disto, é precisamente que o inesperado tem o curioso hábito de se fazer presente quando, é claro, menos se espera...
Este é o alerta que queria oferecer para vocês.
Bem sei como deve ter sido difícil para todos enfrentarem os exames vestibulares e obterem uma vaga numa faculdade renomada. Imagino também que, ao longo dos anos que passaram aqui, não foram poucos os desafios, nem foi modesto o trabalho que tiveram que fazer para serem aprovados nos diversos cursos. Posso também simpatizar com os que tiveram que conciliar estudos e trabalho, abrindo mão de tempo com família e amigos. Tudo o que passaram é motivo justificável de orgulho relativo ao diploma simbolicamente entregue hoje, mas conquistado com sacrifício durante um período consideravelmente mais longo.
Assim sendo, comemorem hoje e comemorem muito, com amigos, com família, esposas, esposos, namoradas e namorados. Vocês merecem, não tenham dúvidas, pois se trata de uma conquista importante.
Entretanto, não pensem, nem por um segundo, que sua evolução, seu aprendizado, termina aqui. A forma particular de aprendizado, um professor à frente, vocês anotando, estudando, sendo testados, talvez acabe hoje, caso vocês não mais decidam por novas rodadas de instrução formal. Mas, num mundo em constante mudança, a evolução pessoal se torna obrigação, se não questão de sobrevivência profissional.
Não, não estou sugerindo que vocês saiam daqui hoje já em busca de uma pós-graduação, de um MBA, de um mestrado. Até espero que alguns de vocês o façam, mas não é disso que trato aqui. Minha mensagem é bem mais simples: não parem de aprender. Sejam humildes quanto a isso, mas não aceitem sabedoria de cima para baixo. Desafiem. Questionem. Ousem pensar diferente. Mesmo que o resultado final não seja o que esperam (e, creiam, raramente é) o caminho é quase sempre mais importante que o destino final.
Na história judaica conta-se que, no início da era cristã, havia dois rabinos, ambos eruditos e famosos: Shamai e Hillel. Certo dia um homem os desafiou a explicar toda lei judaica se apoiando num pé só. Shamai mandou o homem embora. Já Hillel teria dito: “Não fazei aos demais aquilo que não gostarias que fizessem contigo. Esta é toda a Lei; o resto é comentário”. Há muito mais que poderia dizer para vocês neste momento, mas creio ter dito o essencial. O resto é comentário.
Mais uma vez, obrigado pela honra que me toca e meus parabéns aos formandos, seus pais, seus familiares e seus amigos. Vamos comemorar.
Homenagem





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