Uma crise forte e prolongada
Economia

Uma crise forte e prolongada


Independentemente do juízo de valor político sobre o discurso de tomada de posse do Presidente a verdade é que não vi até agora ninguém contrariar de forma convincente o pesado diagnóstico da situação económica, finanaceira e social que Portugal atravessa. Independentemente da retórica política, Portugal teve nos últimos 10 anos um crescimento medíocre, um défice externo anual próximo dos 9% do PIB que conduziu a uma posição de investimento internacional (endividamento líquido face ao exterior) que ultrapassa os 100% do PIB, uma redução da poupança nacional de cerca de 20% para 10%, uma redução da taxa de investimento, um défice público elevado e enfrenta uma crise de financiamento externo que afecta não só o Estado mas também o sistema bancário e o conjunto da economia portuguesa e uma taxa de desemprego próxima dos 11%.

Estamos pois perante um cenário de crise relativamente em que teremos de efectuar um dificilimo ajustamento dos défices público e externo. Num contexto de fortre contracção orçamental, de dificuldades de acesso ao crédito e de elevados níveis de endividamento das famílias e empresas, o único caminho para o crescimento passa pela "aposta" nas exportações.

Na ausência do instrumento cambial que permitiria, através da desvalorização, obter ganhos rápidos de competitividade externa e, via inflação, reduzir o endividamento real do sector privado, o cenário mais provável parece ser o de uma recessão severa e prolongada não parecendo provável que "batamos no fundo" antes de finais da segunda metade de 2012 a que se seguirá provavelmente um recuperação lenta com o desemprego a permanecer em níveis (demasiado) elevados durante alguns anos.

Não tenhamos ilusões, salvo um milagre (em que sinceramente não acredito), mesmo com uma evolução favorável das condições de auxílio externo no seio da União Europeia os próximos anos serão certamente (muito) dificeis em termos económicos e sociais. Mas, as opções políticas e estratégicas que tomarmos poderão mitigar ou acentuar os sacríficios e sobretudo irão condicionar de forma decisiva a evolução do potencial de crescimento da economia portuguesa nas próximas décadas. 

É por isso com desgosto que vejo que os comentários sobre o discurso do Presidente em vez de se centrarem no essencial e na discussão da estratégia para o futuro não consigam escapar à armadilha do argumento "ad hominen" e da análise fundada no taticismo político. Assim não vamos lá !



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