“Os voluntários não são pagos por não terem valor, mas porque não têm preço”.
Nas mais diversas circunstâncias, do nosso círculo de amigos ao meio familiar, do nosso contexto profissional às discussões sobre o curso que o País tem tomado, é comum ouvirmos dizer que já nada vale a pena e que o ideal será encontramos forma de nos acomodarmos à realidade que se nos depara. Aliás, quanto mais nos debruçamos sob esferas que não estão totalmente sob o nosso campo de decisão, mais consideramos inútil qualquer esforço que possamos alocar à modificação das circunstâncias que nos preocupam ou desagradam. Neste âmbito, porém, os actos vêm-se sobrepondo às palavras e são múltiplas as evidências que demonstram que, num cumular de pequenos gestos, são muitos, são cada vez mais, aqueles que entendem que podem ser verdadeiros motores da mudança e agentes de transformação da realidade envolvente, em benefício do próximo. Não é apenas o acto caridoso de quem, com mais ou menos sacrifício, adere num determinado instante ao repto de apoio a causas que pretendem mitigar o sofrimento alheio, através de um qualquer donativo em dinheiro ou géneros, como o que resulta das muitas campanhas com que somos continuamente confrontados e a que, como Comunidade, temos vindo a dar uma resposta tão cabal quanto surpreendente. Mas é sobretudo o número crescente de cidadãos que entregam o seu tempo – um dos seus bens mais preciosos – à participação voluntária num diversificado leque de projectos de intervenção social que mais sobressai de entre as tendências patenteadas pela nossa sociedade ao longo dos últimos anos. Historicamente, sempre fomos um País com forte pendor associativo, destacando-se o trabalho gratuito desenvolvido por muitos dirigentes e colaboradores de associações culturais, recreativas, desportivas ou sociais, muitas das vezes como forma de realização pessoal e ocupação dos tempos livres. Em tempos mais recentes, tem crescido o volume de horas despendido em complemento a exigentes actividades profissionais e vivências familiares, de muitos que participam de forma regular nas mais diversas iniciativas de intervenção junto de franjas mais sensíveis da população – seja por envolverem pessoas mais carenciadas, seja por se dirigirem a determinados grupos de risco. Para lá da progressiva formalidade de tais participações por parte das próprias instituições de destino – com crescentes padrões de exigência na selecção e na regularidade da colaboração, com requisitos de formação-base para os voluntários, etc. -, evidenciam-se também iniciativas comunitárias que procuram alavancar o encontro entre oferta e procura, através de bolsas de horas ou Bancos de Voluntariado, que mais reforçam o valor social e económico desta actividade. Ainda assim, numa altura em que se assinala o Ano Europeu do Voluntariado, cumpre igualmente realçar o volume crescente de voluntariado que é viabilizado pela cada vez maior Responsabilidade Social das Empresas, nomeadamente aquelas que possibilitam aos seus colaboradores a participação neste tipo de projectos como parte do seu tempo normal de trabalho. Neste âmbito, se é já comum encontrar grandes empresas que permitem que os seus colaboradores reservem uma tarde por semana para acompanhar crianças ou idosos em equipamentos sociais, para efectuarem visitas a cidadãos presos e sem família e outras iniciativas análogas, permitam-me que destaque o projecto “Aprender a Empreender” desenvolvido pela Associação “Junior Achievement Portugal”, pela sua singularidade e pela natural conexão com os temas habituais deste espaço. Contando com o Alto Patrocínio da Presidência da República, a congénere portuguesa da mais antiga organização educativa mundial sem fins lucrativos, procura desenvolver o empreendedorismo, o gosto pelo risco, a criatividade, a responsabilidade, a iniciativa e a inovação junto de crianças e jovens, enquanto meio de apoio ao aumento quantitativo e qualitativo de iniciativas empresariais no nosso País. Para tal, os colaboradores das estruturas de gestão das diversas empresas aderentes são desafiados a partilhar as suas experiências com jovens dos diferentes ciclos de ensino, contribuindo para a sua orientação vocacional, para a indução de uma cultura empresarial e para o reforço dos valores do empreendedorismo e do apoio à criação de projectos empresariais. Só no ano lectivo 2010/2011, estiveram envolvidas nos vários domínios deste projecto 387 escolas, mais de 27.000 alunos e cerca de 1.250 voluntários, em diversos pontos do País. Sendo certo que nem todos têm vocação para lidar com determinadas franjas da população num quadro de apoio social, quanto custa colocar uma pequena parcela das nossas competências específicas ao serviço da Comunidade? Se puder e quiser, seja voluntário!
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