Sobre a condução da política económica na periferia da zona euro
Economia

Sobre a condução da política económica na periferia da zona euro


Uma regra básica de política económica é que para se atingirem vários objectivos de política económica independentes é necessário dispor igualmente de pelo menos um mesmo número de instrumentos de política económica independentes. Ora, numa união monetária as autoridades nacionais abdicam quer do instrumento taxa de juro - que no caso da zona Euro passou a ser controlado pelo BCE - que do instrumento cambial, o que significa que dos três instrumentos tradicionais de política económica apenas a política orçamental continua a ser definida no quadro nacional e ainda assim com constragimentos decorrentes do pacto de estabilidade e crescimento.

Num contexto em que a política monetária é conduzida em função da manutenção da estabilidade de preços no médio prazo para o conjunto da zona euro e a taxa de câmbio do euro resulta do equilíbrio entre a oferta e a procura no mercado cambial, isto implica que - numa situação normal - os países apenas dispõem do instrumento orçamental para atenuar os efeitos dos chamados "choques assimétricos" (ou seja, que afectam de modo diferente os países que integram a união monetária) sobre o crescimento económico e o desemprego e o equilíbrio externo. E naturalmente o que tende a suceder é os países optarem por priveligiar o objectivo crescimento, deixando de dispor de qualquer mecanismo para influir directamente no equilíbrio da balança corrente entre os países da zona euro, o qual passou a estar apenas dependente da poupança e do investimento em cada país (condicionada pelas restrições de crédito) e da evolução da competitividade que por sua vez depende da evolução dos preços e da produtividade.

Independentemente da sua origem, num quadro de insustentabilidade das contas públicas que actualmente se verifica em alguns países da zona euro a situação é ainda pior pois não só não dispõem de qualquer instrumento para atenuar ou compensar os efeitos recessivos da necessária austeridade orçamental como, particularmente os pequenos países, correm o risco desses efeitos serem acentuados por um aumento da restritividade da política monetária que serja eventualmente necessária para evitar a subida da inflação no conjunto da zona monetária e, de facto, a única "solução" para a correcção dos desequilíbrios no mercado de trabalho e externo é através (da descida) dos preços e salários e do aumento da produtividade.

Daí que assumam particular importância as ditas políticas estruturais que visam fundamentalmente flexibilizar o ajustamento dos salários e criar as condições para um aumento da produtividade, sendo que - dado que as medidas para aumento de produtividade tendem a ser mais demoradas a produzir efeitos (e estes efeitos são mais incertos) - o ajustamento salarial tenda a ser privilegiado surgindo mesmo como a única solução para através da recuperação da competitividade externa conter o crescimento do desemprego.

A questão que se coloca é que além dos efeitos políticos e sociais associados a uma política de redução de salários reais: i) o efeito dessas políticas sobre o nível de salários é incerto dado a rigidez natural dos salários nominais; e, ii) um processo de deflacção nominal dos salários tem o efeito preverso de aumentar o fardo relativo dos encargos com a dívida não só dos trabalhadores mas também via efeito sobre a procura nominal agregada interna sobre a dívida das empresas e das próprias administrações públicas afectando adversamente as condições de crédito da economia num fenómeno que - pelo menos no curto-médio prazo - tenderá a acentuar os efeitos recessivos.



loading...

- Sobre O Câmbio Euro-dólar
Ontem o Presidente Cavaco Silva referiu a evolução da taxa de câmbio entre o euro e o dólar como demosntração da confiança dos mercados na moeda única europeia, considerando até que o euro estaria actualmente demasiado "forte"...

- One Size (doesn't) Fits All
Um dos principais desafios que se colocam à condução da política monetária na zona euro é a divergência que se verifica nas condições económicas dos diversos países que a integram. Numa inversão do que ocorreu até 2007 a política monetária...

- Taxas De Câmbio Reais E Nominais
Chamar a atenção para um artigo de Krugman em que aborda a questão da relação entre as taxas de câmbio reais e nominais, referindo nomeadamente que: If you have a classical view of the world, you would argue that nominal shocks should affect the...

- O Objectivo De Taxa De Inflação Do Bce
Num paper, Olivier Blanchard, Giovanni Dell’Ariccia, and Paolo Mauro  colocam a seguinte questão: "To be concrete, are the net costs of inflation much higher at, say, 4 percent than at 2 percent, the current target range? Is it more difficult...

- Macro Iii - Recursos Para Parte 3
Data Shows Restrições da Política Macroeconômica Política Monetária  Política Fiscal e Orçamental  História da Teorias Macroeconômicas Temas: Política macroeconômica do crescimento econômico Política macroeconômica...



Economia








.