O BdE cita uma frase de Vasco Barreto (no Memória Inventada), escrita para a revista académica "Natural Selections": |
«Portugal é um país que se manteve em declínio constante durante os últimos oito séculos, essencialmente desde o seu nascimento»
Lendo-se o artigo, de que já saíu uma segunda parte, ficamos na dúvida sobre o alcance da afirmação. Por um lado parece referir-se à nossa tendência para a auto flagelação. Mas frequentemente também o artigo embarca na mesma comiseração: |
«Veja-se por exemplo a Filosofia. A contribuição seminal de Portugal para este campo ocorreu no século XVII, quando os pais do ainda não nascido Espinosa foram expulsos do país, seguindo para Amsterdão. Desde dentão a única contribuição de Portugal para o mundo da ideias foi o termo 'desenrascanço'.»
Outra "descoberta" nesta onda é a de que o vinho do Porto é essencialmente uma criação inglesa em solo português. O artigo lista depois, sem critério aparente, alguns dos nossos heróis e feitos, para concluir que «Também parece evidente que os portugueses possuem uma notável capacidade para responder a desafios pontuais», dos quais elenca a reconstrução após o terramoto de 1755 e a Expo 98. Existe de facto em Portugal uma teoria do "sempre a descer" , muito visível no senso comum desde o a revolução de Abril. Cada ano é sempre "pior" que o anterior - apesar da evidência sobre a melhoria das condições de vida. Também é possível encontrar citações de notáveis pensadores e artistas de quase todos os séculos da nossa existência que se lamentam da comparação com certos aspectos do estrangeiro próximo. Mas não deixa de ser estranho que ainda exista, e que se situe no seio dos países desenvolvidos (1), um país que esteve em permanente declínio durante oito séculos. Só se esteve a descer... para cima. (1) - 27º no Índice do Desenvolvimento Humano, ver resumo em português (ficheiro zip + pdf) |