Abaixo, recente editorial do ESTADÃO, registra o momento econômico atual com relação a questão do investimento e da poupança.
O ano de 2010 será dos investimentos. A sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indica que 86% das empresas têm programas de investimentos; estima-se que o consumo de máquinas aumentará 30% neste ano; e sabe-se que o setor que acusa o maior crescimento na indústria é o de bens de capital, junto com um robusto aumento das importações desses bens. E o governo está promovendo, em razão do período eleitoral, um forte aumento dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A sondagem da FGV coloca, em primeiro lugar, como motivação para investir a necessidade de expandir a capacidade de produção (40% neste ano, ante 24% em 2009). Aumentar a eficiência produtiva explica 28% da motivação (ante 36% no ano passado). Com isso, verifica-se que a indústria aposta, com razão, num aumento do consumo das famílias, ao contrário do ano anterior, quando a aposta errada obrigou-a a aumentar suas importações.
No mesmo dia em que era divulgada a sondagem da FGV, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, declarava que a necessidade de aumentar o nível de poupança interna, como condição para continuar a crescer, era o principal desafio do momento.
Ora, aumentar a poupança significa diminuir o consumo, seja pelas famílias, seja pelo governo enquanto a aposta da indústria é pela elevação da demanda. O presidente do BC explicou que maior formação da poupança "passa pela maior eficiência do Estado e mercado financeiro mais desenvolvido". Nos últimos meses, foram os gastos do governo que estimularam o crescimento da demanda doméstica, fator que, na verdade, continua existindo, porém, fortalecido agora por uma política de "bondades" suscitada pela campanha eleitoral, a ponto de se ter a impressão de que o governo está comprando os eleitores. No entanto, não se verifica, da parte do governo, nenhuma vontade de aumentar sua poupança, isto é, de apresentar um verdadeiro superávit primário, mesmo depois de ter pago os investimentos do PAC.
Seria possível, por meio do programa imobiliário, aumentar a poupança das famílias, mas por enquanto não se nota essa tendência. Na prática, é anulada pelo excesso de crédito fácil, de modo que os compradores de casa própria não encontram dificuldades para honrar esse tipo de compromisso, mantendo sua propensão ao consumo.
Caberia à autoridade monetária tornar mais difícil o acesso das famílias ao crédito. Para investir mais, é necessário poupar mais.