Com a campanha presidencial em andamento e como economia e política são dois assuntos importantes demais, vale a leitura do artigo de Maria Cristina Fernandes no VALOR ECONÔMICO de ontem.
Aécio Neves e Eduardo Campos formaram-se em economia na década da
hiperinflação.
Aécio entrou para o curso de Economia da Pontifícia Universidade
Católica do Rio aos 19 anos. Transferiu-o para a PUC de Minas onde se
formaria em 1984, aos 24 anos.
Eduardo Campos entrou para o curso de economia da Universidade Federal
de Pernambuco em 1982, aos 16 anos e se formaria quatro anos depois.
Aécio dividiu-se entre a faculdade e o governo do avô, eleito em Minas
em 1982.
No último ano do curso, Campos presidiu o Diretório Acadêmico da
Faculdade de Economia. O brasilianista Werner Baer percorria escolas
brasileiras e oferecia bolsas de pós-graduação na Universidade de Illinois.
Tentado, Eduardo optaria por ficar em Pernambuco para assessorar o avô.
Tivesse aceito, seria colega de outro economista brasileiro formado
naquela atribulada década de 1980, Alexandre Tombini. Depois de concluir
economia na Universidade de Brasília em 1984, Tombini foi levado por Baer no
ano seguinte para Illinois de onde sairia PhD.
Quando os três economistas da mesma geração deixavam a universidade,
Dilma Rousseff, outra economista, assumia a Secretaria de Finanças da
Prefeitura de Porto Alegre.
Daquela atribulada década de 1980 até hoje, dois momentos passaram à
história como aqueles em que o adiamento de medidas econômicas pelo
calendário eleitoral mais impacto tiveram sobre a política e a economia.
Os três economistas que devem se encontrar em 2014 assistiram àqueles
momentos em postos distintos.
A história é conhecida. Em 1986 José Sarney via o Plano Cruzado vazar
por todos os lados com o fracasso do congelamento. Seis dias depois da
eleição que deu ao PMDB de Sarney 22 dos 23 governos estaduais e mais da
metade das cadeiras da Câmara dos Deputados, veio o Plano Cruzado II, que
liberou a inflação represada e afundou os anos finais do sarneísmo.
Aécio foi um dos 260 deputados eleitos na esteira do Plano Cruzado. No
meio do mandato constituinte entraria como fundador no partido que até hoje
tem no combate à inflação seu mais importante ativo eleitoral.
A mesma eleição levaria Miguel Arraes de volta ao governo do Estado e,
com ele, o neto se tornaria chefe de gabinete. A crise aberta com o fracasso
do Plano Cruzado faria sangrar o PMDB. Arraes deixaria o partido em direção
ao PSB levando o neto.
O fracasso do Plano Cruzado II também precipitaria a candidatura de
Leonel Brizola à Presidência na qual Dilma se engajaria, aproximando-se dos
petistas gaúchos no segundo turno com o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva.
Doze anos e muitos planos depois o Brasil mais uma vez via coincidirem
calendário eleitoral e a premência de medidas econômicas impopulares.
Fernando Henrique Cardoso disputou a reeleição em 1998 com sinais
evidentes de deterioração do Real. Seus efeitos só chegariam à população dois
meses depois da reeleição quando o governo se decidiu pela desvalorização da
moeda.
Naquele ano Aécio seria reeleito à Câmara dos Deputados com a maior
votação nominal do país e, neste mandato, chegaria à Presidência da Casa.
Em 1998, depois de passar quatro anos em oposição a FHC e enfrentar o
desgaste da operação capitaneada pelo neto na emissão de precatórios
judiciais, Arraes perderia a reeleição.
Naquela eleição o PT conquistaria o governo gaúcho e convidaria a
então doutoranda em economia na Unicamp, Dilma Rousseff, para a secretaria de
Minas e Energia, cargo que exercia ao conhecer Lula.
Um economista que gere uma das maiores carteiras de investimento do
país e não frequenta a Casa das Garças diz que desde a chegada do PT ao poder
este é o momento que mais se assemelha àqueles vividos em 1986 e 1998.
Não vê como o que chama de desalinhamento de juros, câmbio e salários
possa chegar até o fim deste governo sem cobrar um preço exageradamente alto
em 2015.
Desta vez, a encruzilhada de calendário eleitoral e política monetária
atingem mais definitivamente Aécio e Campos. Os dois contendores de Dilma
distinguiram-se em suas reações ao Copom.
Talvez protegido pelo colchão de segurança de seu partido no mercado,
Aécio classificou de "lamentável" os 0,25% do Copom, associando a
alta à falta de compromisso da presidente com os pilares da economia
estabelecidos no governo tucano.
Um economista foi contratado para encontrar-se semanalmente com Aécio.
Ainda não se conhecem suas ideias de política econômica mas sabe-se que, no
governo, o senador mineiro seria mais próximo dos pais do Real do que o
candidato tucano que o antecedeu, José Serra.
Campos não goza das mesmas referências de seu provável adversário de
2014. Os encontros já havidos entre o governador e economistas da Casa das
Garças foram negados por estes últimos. Talvez por isso precise ser mais
claro sobre o que pensa.
Depois de tergiversar nos últimos tempos sobre o tema, o governador
deu uma sinalização que não o distancia da atual condução ao dizer que um
aumento na taxa básica de juros não seria um desastre.
"A política monetária tem que funcionar na direção de preservar
uma conquista brasileira, que foi a contenção da inflação". A frase é de
Campos, mas poderia ser de Dilma.
Se a política monetária for capaz de segurar a inflação, a presidente
ganha tempo para não colocar a questão fiscal em jogo. Daqui até a eleição de
2014 a curiosidade dos investidores em saber onde e como os gastos públicos
serão cortados aumentará tanto quanto a disposição dos postulantes em não se
pronunciar sobre o tema.
Se o Copom continuar nessa toada os extraordinários 96,5% de reajustes
salariais acima da inflação em 2012 (Dieese) podem não se repetir este ano.
Mais difícil é conter a pressão de gastos públicos atrelados ao salário mínimo.
O contrato social em vigor prevê carga tributária elevada para
financiar a expansão do consumo e dos investimentos, mas apenas o primeiro
quesito foi alcançado. Não se espere que os candidatos economistas respondam
se será possível fazê-lo sem revogar a lei que indexa o salário mínimo.
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