Economia
Onde pára o Governo?
É fácil ver o Governo, com pompa e circunstancia, a assinalar as pequenas efemérides que se somam por via do correr dos dias de exercício de funções, mais do que por força do reconhecimento do êxito das medidas e das políticas empreendidas.
Nesse âmbito, já sabemos que o Governo “se engana, mas não engana”, que deve reconhecer que “os resultados ficaram aquém do esperado”, que é necessário “deixar passar mais algum tempo para se perceber o real alcance” de certos projectos, que o caminho de determinadas reformas “está a ser prosseguido de forma irreversível”, embora imperceptível para a generalidade dos visados e dos cidadãos.
É fácil ver o Governo a liderar os movimentos de reconfiguração do nosso modelo de sociedade, a assumir-se como porta-bandeira de toda e qualquer causa fracturante (até de forma irresponsável e imponderada), a clamar para si a vanguarda das políticas de promoção da igualdade dos cidadãos e de democratização e agilização do seu relacionamento com o Estado Central.
É também fácil ver o Governo a prosseguir um roteiro de encenações mediáticas, nada económicas, de anúncio de projectos, de lançamento de concursos, de assinatura de contratos, de lançamento de primeiras pedras, de apresentação de estratégias e estudos, de acompanhamento dos trabalhos, de avaliação ex-ante dos impactos. É na educação, na saúde, na justiça, na segurança nas infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias, nos centros de investigação, nos parques empresariais… E quantos foram efectivamente concluídos?
É normal ver o Governo a fazer de conta que nada sabe e que nenhuma responsabilidade deve assumir pelos fracassos económicos e sociais que a generalidade dos indicadores estatísticos vão comprovando.
É quase pungente observar a forma como o Governo despendeu metade da última década e meia a responsabilizar aqueles que apenas exerceram o poder circunstancialmente e a outra metade a desculpabilizar-se com os impactos nocivos dos males importados do exterior.
É muito comum ver o Governo a empertigar-se com os que lhe são críticos: sejam agências de rating, organismos independentes de credibilidade incontestada, instituições internacionais, associações, ordens ou sindicatos, grupos de profissionais, autarcas ou opinion-makers.
É prática corrente do Governo adoptar políticas discriminatórias, ou mesmo persecutórias, desses que ousam criticá-lo, que presumem legítimo questionar opções e confrontar propostas alternativas ou que, por mera opção ou bom senso, se limitam a não o bajular.
É muito frequente ouvir o Governo em estado de “Crespação” para com certos órgãos de comunicação social ou para com os seus profissionais.
Mas, lá fora há um País.
Neste Sábado, em Braga, o socialista Fernando Moniz, Governador Civil de Braga e, por inerência do cargo, representante do Governo no Distrito, aproveitou a Sessão de Tomada de Posse dos Órgãos Sociais da UGT de Braga para traçar um quadro negro da Região e para produzir uma intervenção em “tom dramático”, em que apelava à adopção, pelo Governo, de “um conjunto de medidas especiais que assegurem uma protecção efectiva e ajudem de uma forma mais eficiente as empresas e as famílias deste distrito”.
Aqui, onde o desemprego “é um flagelo que todos os dias nos bate à porta”, sabemos que “a cadência da falência de empresas da região vai manter-se ao longo dos próximos 10 anos”.
Daí que, “o Poder Central tem que continuar a apoiar os desempregados e apostar na criação de uma rede social efectiva”, sendo que “as empresas do sector têxtil e do vestuário, que são as que mais desempregam, vão continuar dependentes dos apoios públicos, por mais alguns anos”, acrescentou Fernando Moniz.
Curiosamente, este mesmo Governador Civil escusou-se a subscrever o pacote de medidas que a plataforma distrital constituída pela União de Sindicatos de Braga, Associação Comercial de Braga, Associação Industrial do Minho, Universidade do Minho e Arquidiocese de Braga defendeu para a região, em meados de 2009.
Na ocasião, também o Governo e o Primeiro-Ministro, em particular, ignoraram completamente o trabalho desenvolvido por esta Plataforma de agentes de desenvolvimento regionais e a carta que lhe foi dirigida, jamais tendo recebido os seus promotores.
Governo, qual Governo?
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