«A primeira revista literária publicada na Luisiana foi obra de negros, poetas e escritores fancófonos, que reuniram os seus trabalhos em três edições de um pequeno livro com o título L'Album Littéraire. Foi nos anos 1840 e nessa altura a cidade possuía uma classe próspera de negros livres que eram artesãos, escultores, negociantes, proprietários, trabalhadores especializados em todos os campos. Milhares de escravos viviam também à sua conta na cidade, em vários ofícios, enviando todos os meses alguns dólares para os seus proprietários. «Isto não é para diminuir o horror do mercado de escravos no local do famoso St. Louis Hotel, ou a injustiça do trabalho escravo nas plantações, duma ponta à outra da Luisiana. É apenas para dizer que nunca foi uma questão de "tudo ou nada" nesta estranha e bela cidade (...) «Através de tudo isto, a cultura negra nunca se foi abaixo na Luisiana. Na realidade, Nova Orleães tornou-se o lar de muitos negros , de um modo que talvez poucas outras cidades americanas tenham sido. A Dillard University e a Xavier University tornaram-se duas das mais importantes escolas negras da América; e logo que se venceram as batalhas contra a segregação, os negros de Nova Orleães ascenderam a todos os níveis de vida, construíndo uma visível classe média que se encontra ausente em muitas cidades do ocidente e norte da América até hoje. «A influência dos negros na música da cidade e da nação é demasiadamente grande e conhecida para ser descrita. Foram os músicos negros que demandavam Nova Orleães que a apelidaram como "the Big Easy" porque era um sítio onde podiam sempre encontrar trabalho. Não é justo para Nova Orleães considerar o jazz e os bkues como a música do homem pobre, do oprimido. (...) «Agora a Natureza fez o que a Guerra Civil não conseguiu. Agora a Natureza fez o que os motins de 1920 não conseguiram. Agora a Natureza fez o que a "vida moderna" com a sua incessante busca de eficiência não conseguiu. Fez o que nem o racismo nem a segregação conseguiram. (...) «Partilho esta história por uma razão - e para responder a perguntas que surgiram nestes últimos dias. Logo que as câmaras de televisão começaram a filmar os telhados e os helicópteros a socorrer os que estavam encurralados no topo das casas, um coro de vozes ergueu-se: "Porque é que não saíram antes? Porque é que ficaram ali quando sabiam que se aproximava uma tempestade?" Um jornalista chegou mesmo a perguntar-me: "Porque é que as pessoas vivem num sítio como aquele?" (...) «Bem, eis uma resposta. Milhares de pessoas não saíram antes porque não podiam sair. Não tinham o dinheiro necessário. Não tinham veículos. Não tinham nenhum sítio para onde ir. Eles são os pobres, negros e brancos, que vivem na cidade em grande número; e fizeram o que acharam que podiam fazer - juntaram-se nas casas mais resistentes que conseguiram encontrar. Não havia a alternativa de ir para o hotel mais próximo. E além disso, milhares de outros que poderiam ter saído, ficaram para ajudar outros. (...)» Anne Rice Subsequentemente a este artigo, o Netlexfrance presta homenagem a um dos fundadores do L'Album Littéraire: o poeta Armand Lanusse. |