Economia
O PIB da ineficiência.
Editorial do ESTADÃO comenta o resultado do PIB de 2011: 2,7%.
Baixo crescimento, alta inflação e piora das contas externas
marcaram a economia brasileira em 2011. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu
apenas 2,7%, segundo o cálculo divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). A inflação chegou a 6,5% e bateu no teto da
meta. Foi impulsionada não só pela alta dos preços internacionais de petróleo,
metais e produtos agrícolas, mas também por uma forte demanda de consumo. Além
disso, pioraram as transações com o exterior. A receita de exportações de bens
e serviços elevou-se 4,5%, enquanto a despesa com importações subiu 9,7%. Mais
uma vez o setor externo deu uma contribuição negativa para o PIB, subtraindo
0,7% do crescimento. Essa tendência, observada há alguns anos, deve acentuar-se
neste ano, a julgar pela evolução do comércio exterior brasileiro no primeiro
bimestre e pelas projeções tanto oficiais quanto do setor privado.
Se
dependesse apenas da demanda interna, a economia brasileira teria crescido
3,4%, de acordo com os dados do IBGE. Mas a indústria foi incapaz de atender ao
apetite dos consumidores, por causa dos custos elevados e da valorização do
real. Com o real valorizado, os produtos nacionais ficam mais caros, quando seu
preço é convertido em dólares ou euros. Além disso, o dólar barato estimulou as
viagens ao exterior, bem como as remessas de lucros e dividendos, e também
esses fatores pesaram nas contas.
Houve
um claro descompasso na economia brasileira. O consumo das famílias cresceu
4,1%, impulsionado pela expansão do emprego, pelo aumento de 4,8% da massa de
salários reais e por empréstimos pessoais 18,3% maiores que os do ano anterior.
Enquanto isso, a produção industrial avançou apenas 1,6% - deslocada pela
competição estrangeira - e a de serviços, 2,7%. A inflação teria certamente
superado a marca de 6,5%, se a importação não tivesse coberto uma parcela
considerável da demanda dos consumidores.
O
governo aponta como dado positivo a expansão de 4,7% no investimento em
máquinas, equipamentos, construções e obras públicas. O crescimento do PIB,
segundo o discurso otimista, foi puxado pela aplicação de recursos no
fortalecimento da capacidade produtiva e, portanto, o Brasil está no caminho
certo. No entanto, o investimento, equivalente a 19,3% do PIB segundo as contas
do IBGE, continua longe do necessário para um crescimento econômico igual ou
superior a 5% ao ano sem pressões inflacionárias e sem grave desequilíbrio
externo.
Esse
nível mínimo de investimento, segundo cálculos correntes entre profissionais
independentes e economistas do governo, deve corresponder a uns 24% do PIB. Mas
a diferença entre o valor investido nos últimos anos e o mínimo desejável não é
o único problema, quando se trata do objetivo de ampliar e modernizar a
capacidade produtiva. A poupança interna ficou em 17,2% do PIB, no ano passado.
A diferença entre o valor poupado e o investido foi coberta com recursos
externos.
Em
princípio, não há problema na captação de poupança estrangeira para investir.
Mas a distância entre a poupança atual e a necessária para um crescimento sem
risco de grandes desajustes também é muito ampla. Isso se deve principalmente à
propensão do governo para a gastança. Essa propensão limita a capacidade de
poupança do setor público e, ao mesmo tempo, dificulta qualquer revisão séria
do sistema tributário. Impostos excessivos e mal concebidos encarecem a compra
de máquinas e equipamentos e acabam limitando também o investimento privado.
A
baixa taxa de poupança, especialmente do setor público, dificulta a redução do
juro real no Brasil e também isso impõe restrições importantes às políticas de
reforço produtivo das empresas. Essa constatação foi confirmada há poucos dias
por um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional. Em suma: os
dados da economia brasileira em 2011 apontam para algo mais grave que problemas
conjunturais. Refletem deficiências associadas a um padrão de governo
ineficiente e perdulário. O País pode voltar a crescer mais que em 2011, mas
dentro de limites estreitos, enquanto aquele padrão persistir.
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