O mercado de trabalho em 2016
Economia

O mercado de trabalho em 2016


Ricardo Lacerda

Na semana passada foram apresentados os primeiros dados sobre o mercado de trabalho em 2016. A taxa de desocupação de janeiro nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE atingiu 7,6%, frente a 5,3% de janeiro de 2015.
Também foram publicados os resultados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). Em janeiro foram cortados 99.694 empregos formais e nos últimos doze meses (fevereiro 2015- janeiro 2016) a perda de postos formais alcançou 1.590.822. Nesse período, o estoque de emprego formal se retraiu em 3,86%. Com o agravamento da crise, ficou para trás o período em que a taxa de geração do emprego formal havia descolado do nível de atividade econômica. Em 2015 e nesse início de 2016, emprego e PIB caem solidariamente.
Ainda que 7,6% não seja uma taxa elevada para os padrões brasileiros (ver Gráfico 1), a desocupação nas regiões metropolitanas pesquisadas cresceu em uma velocidade acentuada nos últimos doze meses espelhando a deterioração do mercado de trabalho, que tem sido abrangente, tanto em termos geográficos quanto em termos setoriais.


Fonte: IBGE-PME

Regiões metropolitanas
A taxa de desocupação de algumas regiões metropolitanas já estava em crescimento de forma sistemática desde meados em 2014, na série que compara com o mesmo mês do ano anterior, mas foi em dezembro daquele ano que ela começou a crescer na média das regiões metropolitanas.
Em 2015, a partir de fevereiro, as taxas de desocupação ganham forte impulso e desde então tivemos doze meses seguidos de incremento desse indicador em todas as regiões metropolitanas pesquisadas, sempre na comparação com o mesmo mês do ano anterior, fato inédito na série iniciada em 2002.
Nas regiões metropolitanas de Recife e Salvador, cujas taxas são historicamente mais elevadas do que nas demais, a desocupação de janeiro superou 10% da População Economicamente Ativa (ver Gráfico 2). Chama especialmente a atenção a situação da Região Metropolitana de Recife, cuja taxa de desocupação saltou de 6,7% para 10,5% entre janeiro de 2015 e janeiro de 2016. Recife e região foram extremamente prejudicados com a finalização do primeiro bloco de investimentos do Complexo Portuário-Industrial de Suape sem o consequente início da segunda etapa.



Fonte: IBGE-PMC
Ocupação e desocupação
Na comparação entre janeiro de 2016 e janeiro de 2015, o número de pessoas ocupadas sob qualquer tipo de vínculo no mercado de trabalho encolheu 643 mil. As vagas de emprego formal no setor privado reduziram em 381 mil, equivalentes a uma queda de 3%, mas proporcionalmente a maior queda ocorreu no número de empregados sem carteira de trabalho 8,2%.
Estranhamente, o número de pessoas trabalhando por conta própria ou empregadores, como alternativa à queda nos vínculos empregatícios, não teve o crescimento que poderia se esperar. O contingente de pessoas trabalhando por conta própria aumentou em apenas 15 mil e o de empregadores se retraiu em 72 mil.
A queda na ocupação foi bem mais intensa entre os adolescentes, nas faixas de 10 a 17 anos, mas atingiu fortemente os jovens entre 18 e 24 anos. Entre os trabalhadores na faixa de 25 a 49 anos, a retração foi menos acentuada. A única faixa em que a ocupação aumentou foi de 50 anos ou mais. A redução na ocupação atingiu quase que igualmente pessoas de ambos os sexos. Todos os grupos de anos de escolaridade foram alcançados, ainda que a redução tenha sido maior na faixa de pessoas com 8 a 10 anos de instrução, que, grosso modo, corresponde a pessoas com ensino fundamental completo ou ensino médio incompleto.
A deterioração acelerada do mercado de trabalho é a face mais dura da crise econômica atual. As dificuldades políticas, ao postergar decisões e minar a confiança das famílias e investidores, somente acentuam a sua gravidade e ampliam sua duração.


Publicado no Jornal da Cidade, em 28/02/2016 



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