Segundo este gráfico, nos EUA, as mulheres obtêm um ganho maior com a formação superior do que o homens. Trata-se de um estudo de Gary Becker e Kevin Murphy, que fala sobre o "lado positivo" da crescente desigualdade de rendimentos. Aparentemente trata-se de uma reedição da curva de "U invertido" de Kuznets. O que este senhor dizia é que o desenvolvimento económico, numa fase inicial, faz aumentar as desigualdades, e só numa segunda fase é que as coisas se ajustam. Isto deu origem ao slogan "dividir o bolo só depois do desenvolvimento" e contrariava as teses desenvolvimentistas de esquerda, que apelavam a dividir o bolo "antes" do desenvolvimento.
Becker e Murphy dizem que é isso precisamente que está a acontecer na China e na Índia: as desigualdades estão a aumentar devido à explosão do crescimento. Quanto aos EUA, a origem vem da grande procura de pessoas qualificadas, que faz aumentar os rendimentos dos que estudam mais.
Os autores também encontraram aqui um paradoxo: se mais estudos têm um "pay-off" tão elevado, porque é que não há mais gente a completar estudos superiores? Esta questão também é velha: porque será que as pessoas não se comportam de acordo com os belos modelos de equilíbrio da Economia neo-clássica?. Becker e Murphy respondem deste modo:
«As respostas a esta questão, bem como a outras questões relacionadas, reside em parte no estilhaçar da famíla americana e nos consequentes baixos níveis adquiridos por muitas crianças na escolas básicas e secundárias - particularmente indivíduos de famílias separadas. As capacidades cognitivas tendem a desenvolver-se em idades muito baixas, enquanto que - tal como mostrou o nosso colega James Heckman - capacidades não cognitivas, como os hábitos de estudo, chegar a tempo aos compromissos e atitudes perante o trabalho, só se adquirem mais tarde, embora ainda enquanto jovens. Muitos dos que abandonam a escola parecem estar seriamente afectados nas capacidades não cognitivas que lhes permitiriam tirar proveito das elevadas taxas de retorno da educação e de outro capital humano.»
Até parece storytelling, não é? Porém, a verdade é que nos EUA estuda-se muito todo este tipo de questões. Quem é que estará mais ameaçado com o virus do storytelling: aqueles que fazem muitos estudos e se perdem nos dados, ou aqueles (como nós) que não fazem estudos nenhuns e explicam o mundo à volta (e dirigem a política) de acordo com "racionalidades" ideológicas congeminadas por algum economista fora-de-prazo (parafraseando outro economista fora-de-prazo)?