Ricardo Lacerda
O Brasil acompanhou com aflição os desdobramentos da longa estiagem que vem atingindo o semiárido nordestino desde 2011. Imagens fortes de animais morrendo e de barreiros e açudes vazios mostraram o drama das famílias de pequenos agricultores diante da perda da produção agrícola e de suas criações.
Ainda que programas como seguro-safra e bolsa estiagem tenham atenuado as perdas dos rendimentos das famílias, as ações implementadas não têm o alcance suficiente para compensar os prejuízos na renda agrícola da região.
As estimativas sobre os impactos da seca atual na economia do semiárido carecem de estudos mais aprofundados. Ainda assim, quando os resultados das Pesquisas Agrícolas Municipais (PAM) e das Pesquisas Pecuárias Municipais (PPM), do IBGE, referentes aos anos de 2012 e 2013, tiverem sido publicados será possível ter uma aproximação dos danos econômicos incorridos.
Vulnerabilidade
Há mais de cinqüenta anos, desde quando publicado o célebre estudo do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, intitulado Uma política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste, que foi diagnosticado o caráter estrutural do problema econômico de seca.
Ao lado da necessidade de socorrer às famílias que ficam sem rendimentos e vêm suas as parcas reservas esvaírem quando a estiagem impõe perdas parciais ou totais da produção agrícola, passou-se a entender que é fundamental, além de cuidar dos investimentos em infraestrutura hídrica, dotar a região de uma economia agrícola com unidades produtivas mais estruturadas em termos produtivos e financeiros e com mais recursos científicos e tecnológicos, a fim de enfrentar com danos relativamente menores os efeitos da estiagem.
Não é justo desconhecer o que foi feito desde então em termos de investimentos em infraestrutura hídrica e os progressos produtivos alcançados na região, tanto na agricultura familiar quanto no agronegócio. Tampouco deve-se deixar de reconhecer que a economia agrícola da região permanece muito frágil e muito vulnerável aos efeitos da estiagens que, periodicamente, assolam a região, atestando que tudo que foi feito em termos de estruturação da economia agrícola foi muito pouco frente à dimensão do problema.
Dimensionando o problema
Dos anos cinquenta até os dias de hoje, a economia do semiárido nordestino se tornou menos dependente da renda gerada pelo setor agrícola e uma fração muito grande da população da região passou a residir nas áreas urbanas. As cidades cresceram, novos pólos regionais se desenvolveram e alcançaram dimensões importantes e as rendas geradas nas atividades urbanas, incluindo atividades industriais, comércio e governo, em muito superaram a renda do setor agrícola.
Ainda assim, o censo demográfico de 2010 constatou que uma em cada duas pessoas ocupadas na mesorregião do sertão sergipano, que vai de Canindé do São Francisco, ao norte, a Tobias Barreto, ao sul, tinha a agricultura como principal atividade econômica. A maior parte dessas pessoas se dedica ao cultivo do milho, do feijão e mandioca e à atividade pecuária. Em 2010, antes dos efeitos da seca, mais de 80% do valor da produção agrícola da mesorregião do sertão era proveniente do cultivo do milho, seguido do feijão com pouco mais de 10%.
Os dados do PIB diferem bastante dos de ocupação, e mesmo dos de rendimento. A microrregião de Carira, que apresentava em 2010 a maior proporção da agricultura no Valor Adicionado Bruto dentre as treze microrregiões sergipanas, essa participação se restringia a 19%, frente aos 33% do peso do setor público, incluindo previdência, e 58% de participação do total do setor serviços.
Impactos
Com os resultados do primeiro ano da atual estiagem, em 2011, o valor da produção agrícola da mesorregião do Sertão Sergipano caiu notáveis 39%, em relação ao ano anterior, a quantidade produzida de milho despencou 47% , e a de feijão, 73%.
Pela estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, do IBGE, as quantidades produzidas de milho (ver Gráfico) e do feijão em Sergipe continuaram despencando em 2012. Em 2013, tanto a cultura do milho quanto a do feijão apresentaram forte recuperação, já como resultado da volta das chuvas.
Mesmo com a redução persistente do seu peso na geração da riqueza da região, a economia agrícola do semiárido nordestino requer de fato volumes elevados de investimentos em infraestrutura hídrica, muito acima do que se fez nas últimas cinco décadas. Mas exige, também, esforços não menos expressivos no desenvolvimento tecnológico e na qualificação de recursos humanos.
Fonte: IBGE- PAM. 2000 a 2011. *IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Estimativa de Julho de 2013(para 2012) e de agosto de 2013(para 2013)
Publicado no Jornal da Cidade em 06/10/2013
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