Ricardo Lacerda
As recorrentes revisões para baixo das projeções que elabora sobre crescimento da economia mundial instigou o Fundo Monetário Internacional a investigar as mudanças recentes no potencial de crescimento de longo prazo entre as economias avançadas e entre as economias emergentes.
A figura apresentada, extraída da edição de abril do Panorama da Economia Mundial, ilustra como os PIBs das economias avançadas e dos mercados emergentes evoluíram a taxas bem inferiores às que foram projetadas em 2007 e 2008, antes da deflagração da crise financeira internacional.
Gráfico: Evolução dos Índices de crescimento das economias avançadas
e das economias emergentes comparados com as projeções pré-crise. (2007=100)
Fonte: Extraído de FMI, Panorama da Economia Mundial, abril de 2015.
Produto potencial
A edição de abril de 2015 do relatório Panorama da Economia Mundial dedica o capítulo 3 ao exame da queda do potencial de crescimento de longo prazo nos últimos anos. O capítulo examina as mudanças recentes que aconteceram na evolução dos fatores do lado da oferta (trabalho, capital e tecnologia) que teriam provocado deslocamento para baixo no potencial de crescimento, tanto entre as economias avançadas quanto entre os chamados mercados emergentes.
Segundo o relatório, o crescimento de longo prazo entre as economias avançadas teria espaço para acelerar moderadamente nos próximos anos, à medida que forem amortecidos os efeitos restritivos da crise financeira.
As economias emergentes, por sua vez, se situariam em outro estágio e amargariam redução adicional do produto potencial depois de terem conhecido um período relativamente longo de sua ampliação, entre o início dos anos 2000 e a deflagração da crise financeira no final de 2008.
O relatório aponta as razões substantivas para que o potencial de crescimento das economias avançadas não alcance as taxas do período pré-crise: fatores associados a questões demográficas como o envelhecimento da população e aspectos relacionados ao ritmo lento da recuperação do investimento.
No caso das economias emergentes, as taxas de expansão do PIB dos últimos anos viriam se posicionando acima do seu potencial, rebaixado após a crise de 2008, resultando em desequilíbrios fiscais e nas contas externas que minaram a confiança das empresas e famílias sobre as perspectivas de crescimento.
Para o relatório do FMI, três seriam as causas da revisão para baixo do potencial de crescimento de longo prazo das economias emergentes: o envelhecimento da população, a forte contração dos investimentos que acompanhou a crise internacional e a desaceleração dos incrementos de produtividade à medida que as economias emergentes reduziram a diferença tecnológica em relação às economias avançadas. Em outras palavras, a maior parte das economias emergentes estaria crescendo mais do que pode.
Para aqueles países que se encontrariam em tal situação caberia seguir duas linhas de ação: ajustar o crescimento efetivo ao potencial de crescimento, adotando políticas fiscais e monetárias restritivas, e fazer as reformas e investir em recursos humanos a fim de ampliar tal potencial, a receita básica das agências internacionais.
Avançadas e emergentes
O FMI projeta que as economias avançadas devem ampliar o potencial de crescimento médio anual de 1,3% entre 2008-2014 para as taxas ainda muito modestas, de 1,6% entre 2015 e 2020, assinalando que elas alcançaram 2,25% entre 2001 e 2007. A ampliação do potencial de crescimento entre as economias avançadas decorreria do incremento gradual da taxa de investimento, acelerando a ampliação do estoque de capital à medida que a crise ficasse para trás. Taxa média anual de 1,6%, definitivamente, não é uma perspectiva extraordinária.
Entre os países emergentes, o crescimento do produto potencial ter-se-ia retraído da média anual de 6,5%, entre 2008 e 2014, para 5,2%, entre 2015 e 2020.
Como dito acima, a estimativa da expansão do produto potencial, que funcionaria como um teto para o crescimento equilibrado, se baseia na velocidade do crescimento da força de trabalho, do estoque de capital e dos ganhos de produtividade proporcionados pela instalação de equipamentos mais modernos, por contar com mão-de-obra mais qualificada ou até mesmo por mudanças do ambiente econômico tornando-o mais favorável à expansão dos negócios e à inovação. Ao fim e ao cabo significa apenas que a economia somente pode crescer de forma equilibrada de acordo com a quantidade e a eficiência dos fatores de produção com que dispõe, uma simples igualdade contábil.
Quando as condições internas ou externas alterarem as possibilidades do crescimento do uso ou da disponibilidade dos fatores ou a eficiência ou rentabilidade deles novos cálculos deverão ser feitos.
Há limitações cruciais nas estimativas do produto potencial que fazem com que sejam desautorizadas seguidamente: mudanças institucionais, tecnológicas, regulatórias, comerciais, financeiras ou macroeconômicas inesperadas ou mal dimensionadas na economia mundial fazem picadinho das melhores projeções, como ocorreu após a deflagração da crise financeira internacional; em relação aos países emergentes, persiste uma limitação adicional; subestima-se o enorme potencial de crescimento que tem a incorporação de grandes contingentes de força de trabalho subaproveitada, assim como o da inclusão de tais pessoas no mercado de consumo.
Publicado no Jornal da Cidade, em 19/04/2015
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