Economia
O armário econômico de Romney.
PAUL KRUGMAN, na Folha de S. Paulo, num texto que não dá para não ler.
De acordo com Michael Kinsley, uma gafe é o
que acontece quando um político acidentalmente fala a verdade. Foi sem dúvida o
que aconteceu com Mitt Romney na terça, quando, em um momento de franqueza ele
acabou por se entregar.
Falando no Michigan, Romney ouviu uma
pergunta sobre redução do deficit e disse em resposta algo inteiramente
razoável: "Se você apenas cortar, se você pensar unicamente em reduzir
gastos, à medida que reduzir os gastos você vai desacelerar a economia".
Como se poderia prever, a polícia ideológica
da direita ficou horrorizada; o Clube para o Crescimento imediatamente
denunciou a declaração, dizendo que ela mostra que Romney não é "um
conservador que defende o governo limitado".
E um porta-voz de Romney tentou retirar o que
o pré-candidato havia dito, afirmando: "O que o governador quis dizer foi
que apenas cortar o Orçamento, sem políticas afirmativas em prol do
crescimento, é insuficiente para imprimir uma virada na economia".
Sabemos com quem Romney vai buscar conselhos
econômicos; lideram a lista Glenn Hubbard, da Universidade Columbia, e N.
Gregory Mankiw, de Harvard. Embora eles sejam partidários republicanos leais,
ambos também possuem longos históricos como economistas profissionais. E o que
esses históricos profissionais deles sugerem é que nenhum dos dois acredita em
nenhuma das proposições que viraram provas decisivas para os pré-candidatos
republicanos.
Considere-se o caso de Mankiw, em especial.
Os republicanos modernos detestam Keynes; Mankiw é editor de uma coletânea de
artigos intitulada "New Keynesian Economics". Numa das primeiras
edições de seu livro didático, que é um best-seller, ele descreveu a economia
baseada no estímulo à oferta -a doutrina à qual aderiu o endeusado Ronald
Reagan- como sendo a criação de "excêntricos e charlatães". E, em
2009, ele pediu por inflação mais alta como solução para a crise, posição que é
terminantemente rejeitada por republicanos como Paul Ryan, presidente do Comitê
de Orçamento da Câmara.
Em vista de seus assessores, portanto, parece
seguro supor que aquilo que Romney falou sem querer reflita suas ideias
econômicas reais.
Então será que aqueles que não compartilham
as crenças da direita deveriam sentir-se reconfortados com as evidências de que
Romney não acredita em nada que anda dizendo? Em especial, deveríamos presumir
que, uma vez eleito, ele adotaria políticas econômicas sensatas?
Lamentavelmente, não.
Pois o cinismo e a falta de coragem moral que
têm estado tão evidentes na campanha não desapareceriam assim que Romney
pusesse os pés na Casa Branca. Se ele não ousa discordar das bobagens
econômicas agora, por que imaginar que se disporia a contestá-las no futuro? E
vale lembrar que, se for eleito, ele será observado estreitamente, em busca de
sinais de qualquer apostasia, pelas próprias pessoas que agora se esforça para
agradar.
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