Neste período onde o Rei Momo é quem manda no Brasil, dia seguinte a nova elevação da taxa básica de juros de 11,25% para 11,75%, a sociedade toma conhecimento que a economia brasileira cresceu à taxa de 7,5% em 2010 em comparação com 2009. O Produto Interno Bruto - PIB atingiu R$ 3,675 trilhões e, finalmente, deixamos o 0,6% negativo de 2009 bastante atrás. O exuberante indicador é o maior desde 1986 e encerra com perfeição a era do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Trata-se de uma excelente recuperação econômica, já esperada pelos analistas de mercado e governo, mas contém o fato desse crescimento incluir fortes investimentos do governo, bem como comparar-se sobre o pífio desempenho de 2009.
Como no Carnaval coexistem momentos de alegrias e tristezas, na economia não poderia ser diferente. Enquanto muitos estão felizes com o excepcional aumento no PIB, outros estão bastante preocupados com um eventual retorno da inflação. Para 2011 o mercado já prevê uma taxa de inflação de 5,8%. Considerando que em 2009 a inflação foi de 5,91%, a maior registrada no país desde 2004 e, em janeiro deste ano, o índice subiu 0,83%, a maior alta desde abril de 2005, existe uma luz amarela no final do túnel. Como qualquer economia que deseja manter-se, sem graves problemas estruturais, entre as maiores do mundo, o Brasil trabalha com o regime de metas de inflação, sendo o Banco Central responsável por manter a taxa de inflação em 4,5% ao ano, com margem de 2% para mais ou menos. Com o consumo mantendo-se nas atuais condições, o país corre um sério risco de retornar ao universo inflacionário, com perdas para todos os extratos da sociedade, principalmente os de baixa renda.
Fato é que com o ingresso de milhões de novos consumidores ao mercado, ávidos por produtos básicos que vão da linha branca até a industria automotiva e que faz a festa das empresas produtoras, o consumo aumentou substancialmente, resultando num preocupante aumento da taxa de inflação, já em níveis superiores ao centro da meta. Diante disso, o governo age através do Banco Central com a elevação da taxa de juros visando frear essa demanda que estava reprimida, bem como comunica ao mercado sua intenção de cortar cerca de R$ 50 bilhões nos seus gastos públicos. Muitos analistas entendem que essa seja a meta mais difícil de cumprir devido os componentes políticos envolvidos, o que no Brasil sempre é, na maioria das vezes, em benefício de setores mais organizados.
Mesmo que os efeitos da elevação da taxa de juros não sejam de curtíssimo prazo, essa sinalização já provoca uma redução no consumo, apesar do Brasil atualmente apresentar um nível de desemprego um pouco superior a 6%, um dos mais baixos da história. Neste momento é importante que a economia ajuste-se aos padrões de macro estabilidade, uma vez que temos uma excessiva carga tributária, uma preocupante dependência das nossas exportações para a China, uma logística que não favorece a produção, uma legislação anacrônica e uma presença estatal em setores privados que há anos deveriam ter sido privatizados. Para o economista Antonio Correa de Lacerda “Se você combina corte de gastos com aumento de juros, com restrição da demanda e com o cenário internacional turbulento, você pode jogar a economia no chão.O desafio do Brasil é diminuir um pouco o ritmo de crescimento da economia, porém manter acelerado o ritmo de investimentos. É isso que vai garantir a sustentabilidade no futuro.”
Nesse ponto espera-se que os investimentos do governo através do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC e as monumentais obras que deverão ser construídas para sediar a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, efetivamente produzam condições para a manutenção de um bom ritmo de crescimento, previsivelmente inferior ao PIB 2010, mas melhor do que o resultado de outros países desenvolvidos. De qualquer maneira, conservadoramente, o próprio governo já trabalha com um PIB para 2011 na média em 5%, crescimento esse aceitável diante das enormes demandas ainda existentes na sociedade brasileira e do risco do retorno da inflação. Que no Carnaval de 2012, os números também dêem samba.