A população brasileira que hoje esta na faixa dos seus 16 anos desconhece o que seja a inflação. O Brasil registrou entre 1980 a junho de 1994, quando foi lançado o Plano Real, uma inflação acumulada de 10,5 trilhões por cento. Esse terrível dragão foi finalmente domado pelo Plano Real, o poder de compra dos brasileiros aumentou e os presidentes Fernando Henrique e Lula da Silva conseguiram governar de uma maneira que favoreceu as classes sociais de baixa renda.
Com o mundo convivendo ainda com os estragos causados pela crise econômica de 2008, registra-se no Brasil um sinal que a inflação pode voltar. Esse perigo latente não deve, sob hipótese alguma, ser desconsiderado pelo atual governo. Durante estes últimos 16 anos o povo brasileiro aprendeu a viver num país onde o preço de um bem hoje é o mesmo de amanhã e foi o mesmo de ontem. Aceitar a volta da inflação somente trará prejuízos a todos, mas em época eleitoral a tolerância do governo com o assunto, resultou em sinal amarelo hoje para o novo governo.
O Brasil, que tem uma meta oficial de inflação de 4,5% ao ano, brilhantemente defendida pelo Banco Central, acumula uma alta de 6% nos doze meses encerrados em janeiro/2011. O país vem crescendo a uma taxa anual de quase 8%, o que vem resultando num aumento mais forte da demanda, que a oferta não consegue atender, o que acarreta o aumento de preços de diversos produtos.
Para combater essa situação, além dos últimos aumentos na taxa básica de juros – hoje em 11,25% ao ano, uma das mais elevadas do mundo, recentemente o governo cortou no próprio orçamento algo em torno de R$ 50 bilhões, um número mágico que até o momento ninguém consegue detectar onde e quais despesas efetivamente sofrerão os cortes. A boa notícia é que, conforme Olivier Blanchard, quando os efeitos sobre as expectativas são levados em conta, uma redução dos gastos do governo não leva necessariamente a uma queda do produto.
Quando analisamos o comportamento das curvas IS e LM nessa situação específica, fica bastante claro que os gastos do governo diminuindo, levam a um deslocamento da curva IS para a esquerda. Porém, se o governo consegue reduzir a taxa de juros, a curva IS desloca-se para a direita e a essa taxa de juros em queda estimula os gastos e aumenta o produto.
Isso posto, mais do que nunca compete ao governo saber onde deve cortar, sem prejuízo às suas funções básicas de assegurar melhores benefícios para a população e sem esquecer da estratosférica carga tributária cobrada da sociedade. Fazendo a sua parte e deixando o mercado trabalhar, o governo atingirá seus objetivos, ou seja, não deixar o dragão inflacionário voltar a dominar este país, bem como, conseguir manter a taxa de juros num patamar que atenda ao consumo consciente da população.
Como comentou nesta semana Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil, “Não podemos tolerar que a inflação fuja do controle num país como o Brasil, que ainda trem resquícios de indexação. Quanto menor a inflação, menor o custo para mantê-la em patamar baixo, porque todos os agentes econômicos trabalham com a perspectiva de que ela vai se manter assim e resistem à tentação de reajustar seus preços”.