Não existe economista keynesiano! Cheguei a essa conclusão nos últimos meses, enquanto refletia com relação ao significado da palavra “Keynes” para a profissão dos economistas. Tecnicamente falando, cheguei a conclusão que essa palavra não possuí significado determinado, variando em função do economista que a pronuncia. Muitos economistas já foram classificados como “keynesianos”, embora suas idéias pouco tivessem relação com outros economistas classificados pelo mesmo rótulo.
Por exemplo, os seguintes economistas já foram classificados como keynesianos: Samuelson, Joan Robinson, Paul Davidson, G. L. S. Shackle, Sraffa e Galbraith. O que Samuelson tem a ver com Sraffa e o que Sraffa tem a ver com Galbraith? Além de nenhum dos três serem liberais eles não possuem absolutamente nenhuma semelhança significativa. Samuelson é um economista matemático neoclássico, que é“ keynesiano” porque não acredita que os preços se ajustavam rapidamente a mudanças na quantidade de moeda no sistema econômico, algo que até David Hume já sabia (agora Hume era keynesiano?). Sraffa era um ricardiano, que acreditava que o valor das coisas não tinha relação com as preferências individuais com relação a essas coisas. O que ele tinha de keynesiano? Era meio comuna. Galbraith? Era um ideólogo comunista e heterodoxo radical, que acreditava que a teoria econômica moderna era um lixo. O que Galbraith tinha em comum com Sraffa? Ambos não gostavam dos neoclássicos. E com o teórico neoclássico, Samuelson? Absolutamente nada. Também nota-se o contraste entre Shackle e o resto da lista, Shackle era um subjetivista radical, Samuelson era um subjetivista estático, Robinson e Sraffa eram ricardianos (anti subjetivistas) e Galbraith era anti teórico (não usava nenhuma teoria do valor para entender a economia).
Keynesiano parece ter virado um rótulo empregado para descrever qualquer economista que não seja liberal e nem marxista. Já que a única coisa que une os da lista acima é que nenhum é liberal e nenhum é marxista. O olha que Samuelson é mais parecido com Milton Friedman do que com qualquer um da lista. Na verdade tanto Samuelson quanto Friedman ensinavam a mesma teoria do preço na sala de aula, a diferença é que Friedman aplicava a teoria a realidade... De qualquer maneira, não é satisfatório classificar de Keynesiano qualquer neoclássico que não entendeu o teorema de Coase. Ou qualquer economista intervencionista, já que existem milhões de intervencionistas que não foram keynesianos.
Bem, segundo Krugman, Keynes foi quem descobriu que os preços não se ajustavam rapidamente a variações na quantidade de moeda, o que significa que a variação na quantidade de moeda acaba gerando mudanças reais no sistema econômico. Para afirmar uma bobagem dessas Krugman certamente nunca teve contato com a literatura econômica anterior a Keynes ou mesmo da época do Keynes. Keynes nunca afirmou claramente o que é “demanda efetiva”, até hoje ninguém na profissão sabe mesmo o que isso significa e não existe um consenso.
Keynesiano não é o economista que defende políticas fiscais e monetárias expansionistas anticíclicas? Realmente, boa parte dos economistas da lista defende esse tipo de política. Já Keynes não. Segundo certas interpretações, Keynes não defendia nenhuma política anticíclica. Ele defendia uma política de “socialização do investimento” e “redução da taxa de juros de longo prazo para um valor estável que tende a zero”. Como essas afirmativas podem ter várias interpretações, não é possível definir como keynesiano um economista que defende políticas keynesiana porque não existe definição clara do que seja uma política keynesiana.
Além disso, nem todos os economistas classificados como keynesianos eram intervencionistas. Shackle não era intervencionista, era um economista que não era contra nem a favor da intervenção estatal generalizada, ele dizia que o mundo é muito complexo para se poder tomar qualquer decisão cientifica com relação às conseqüências da intervenção. Ele defendia a distribuição de renda, por exemplo, mas não defendia por qualquer motivo econômico, tanto que ele disse que achava legal distribuir renda e talz, mas admitia que não tinha nenhum argumento analítico para justificar a distribuição de renda.
Resumindo: Classificar um economista como keynesiano é tão impreciso quanto classificar uma banda de rock como “rock progressivo”. Logo, proponho que deixem de utilizar esse rótulo. O que já está acontecendo: Os livros texto de macro mais sofisticados já abandonaram qualquer referência significa à Keynes e ao keynesianismo (tipo o manual de macro do Robert Lucas).
Nota-se também que o termo keynesianismo deriva basicamente de interpretações do livro "Teoria Geral", os trabalhos mais antigos do Keynes eram mais objetivos e claros. Por exemplo, na década de 20 Keynes era um monetarista, quase igual a Friedman.