Não-Estacionariedade de Ciclos Macroeconômicos, Real Business Cycles e suas Críticas
Economia

Não-Estacionariedade de Ciclos Macroeconômicos, Real Business Cycles e suas Críticas


Alguns trechos da minha resenha de Tópicos em Macroeconomia, do artigo de Nelson & Plosser sobre um teste econométrico para a análise dos ciclos macroeconômicos e a existência (ou não) de tendências de longo prazo.

A macroeconomia tradicional, em seus modelos, tende a decompor os efeitos das variáveis exógenas sobre as variáveis endógenas de acordo com a sua natureza. Considera-se que as variáveis reais , tal como o estoque de capital e de mão-de-obra disponíveis na economia e as variações tecnológicas consistem em um componente de crescimento, ao passo que as variáveis nominais , tais como a oferta de moeda, consistem em um componente de ciclo econômico. Como, de acordo com a teoria macroeconômica tradicional, o crescimento de longo prazo é inteiramente dirigido pelas variáveis reais, considera-se que os ciclos têm natureza estritamente transitória, dissipando-se ao longo do tempo.

Assim, o foco do estudo de Nelson & Plosser (1982) é exatamente a não-estacionariedade dos séries temporais econômicas. Segundo os autores, a não-estacionariedade implica que as séries tenham tendência móvel, não seguindo um valor médio de longo prazo, e podendo se afastar do seu estado inicial frente a choques de curto prazo.

Os autores apontam duas formas de não-estacionariedade das séries temporais macroeconômicas:

Em primeiro lugar, as séries de trajetória estacionária, como, por exemplo,
zt = α + βt + ct.

Tais séries podem ser expressas como uma função do tempo mais um erro aleatório de média zero. Assim, a variável endógena do modelo, zt, flutua em torno de uma tendência definida, e apresenta uma variância finita que depende da variância do termo de erro aleatório. A projeção de zt, nesse modelo, se dá pela parte determinística da série, α + βt, já que os choques são temporários, dissipando-se com o tempo, e fazendo com que a economia volte para a sua tendência de longo prazo, que é determinada por questões estruturais ligadas ao lado da oferta.

Em segundo lugar, as séries de passeio aleatório (o de random walk), como, por exemplo, zt = β + zt-1 + dt.

Nesses modelos, não há uma tendência de longo prazo para a trajetória da variável dependente zt, e os choques são cumulativos, de efeitos permanentes, de modo que a economia não volta para a mesma trajetória após receber uma oscilação. Assim, o valor atual da variável endógena zt é função de todos os choques aleatórios recebidos até o momento: zt = z0 + βit + Σdt. Isso faz com que as previsões de longo prazo para o comportamento dessa variável sejam sempre influenciadas por eventos históricos, e que a variância dos erros de previsão cresçam de acordo com o horizonte de tempo que essa previsão pretenda abordar.

O artigo de Nelson & Plosser (1982) busca mostrar, por meio de um teste econométrico envolvendo séries temporais de variáveis da economia norte-americana em um período de cerca de um século, que o crescimento econômico não precisa se dar obrigatoriamente sob uma trajetória determinística. Isto é, a tendência de longo prazo do comportamento das variáveis econômicas ao longo do tempo pode ser estocástica, afetada permanentemente por choques aleatórios de curto prazo.

De acordo com o teste econométrico realizado, os autores concluíram que os ciclos econômicos têm, predominantemente, trajetória estocástica do tipo random walk, ou então, as flutuações, se têm trajetória definida, seus choques são tão autocorrelacionados que são indistinguíveis das trajetórias estocásticas. Portanto, segundo os autores, os fatores ligados às variáveis reais parecem ser mais relevantes para explicar os ciclos do que os fatores monetários.

Como, pela teoria macroeconômica convencional, a trajetória do produto real é explicada pela soma de um componente de crescimento (de oferta agregada) e um componente cíclico (de demanda agregada), então, se os ciclos provocados pelas variáveis monetárias são transitórios, ou estacionários, as oscilações não estacionárias no produto devem ser explicadas pelos choques nas variáveis reais do modelo. Assim, os autores concluem que essas variáveis reais, que provocam não-estacionariedade no comportamento do produto, devem ser incluídas nos modelos de regressão, tais quais os estoques de fatores de produção e a variação tecnológica, a qual é vista como responsável pelas quebras estruturais na trajetória do comportamento da economia. Assim, fundamenta-se a Teoria dos Ciclos Reais de Negócios (Real Business Cycles), segundo a qual os ciclos econômicos decorrem das respostas dos agentes econômicos, por meio de suas decisões intertemporais de trabalho (ou lazer) e de poupança (ou consumo), frente a choques de oferta.

Contudo, as conclusões do trabalho de Nelson & Plosser sofreram críticas por parte de diversas correntes de pensamento macroeconômico, as quais procuraram tentar conciliar a raiz unitária das séries temporais macroeconômicas com suas teorias, ou então relativizar a importância da não-estacionariedade. Por exemplo, autores novo-keynesianos desenvolveram a hipótese da quase-raiz unitária, segundo a qual a margem de erro do teste de hipótese pode captar como raiz unitária a existência de uma lentidão no ajustamento da economia a choques, provocada por rigidez nominal e imperfeições de mercado. Por outro lado, autores pós-keynesianos resgatam a hipótese levantada por Tobin (1965), de não-neutralidade da moeda sobre a trajetória da economia no longo prazo, já que, como a moeda é considerada um ativo, ela concorre com outras opções de investimento por parte dos agentes econômicos, e isso influencia o processo de acumulação de capital no longo prazo. Portanto, nessa visão, choques monetários podem gerar quebras estruturais na economia.



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