Mark Blaug [3]
Economia

Mark Blaug [3]



     Mark Blaug

P - No seu artigo, publicado neste número da Challenge, você dá grande importância à modelação formal e à evolução desde o trabalho de Kenneth Arrow e Gerard Debreu. Acredita que tal formalismo matemático se aguentou assim tão bem? E porque foi a disciplina nessa direcção?

MB - Vou dar-lhe a resposta padrão, embora eu pense este é um tema muito difícil. Trata-se de uma questão profunda do domínio da história das ideias. Como é que chegámos a isto? Se eu pudesse responder a esta questão — se eu achasse que tinha a resposta — certamente que ia já a correr publicá-la. Não tenho a certeza de poder responder cabalmente a isto. Mas uma abordagem padrão das pessoas que têm pensado no assunto é a de que, algures depois da II Guerra Mundial, a Economia começou a modelar-se a si própria à semelhança das ciências duras. Queria ser a ciência social que se parecesse exactamente com a Física. Isto levou à matematização, à modelização matemática, à modelização formal, e ao subsequente endeusamento da técnica e da elegância formal.

Mas esta explicação não é convincente porque se soubermos algo da Física — e eu sou um Físico amador — a Física não é assim. A Física leva a evidência muito a sério, mas muitas das suas teorias são vagas, confusas e inconclusivas. E não são nada elegantes. O assunto que nós os economistas estivemos a macaquear foi a Matemática. Transformámos a Economia numa espécie de Matemática Social que emprega palavras como "preço", "mercado", "mercadoria". Há semelhanças com a Economia, mas quando lemos um artigo que usa estas palavras, todas as relações são relações matemáticas, todas as inferências são concebidas matematicamente; e nunca se questiona se estas variáveis, conceitos e relações funcionais matemáticas apresentam alguma semelhança com observações do mundo real. Deirdre McCloskey, cujos trabalhos em geral não aprecio, disse muito acertadamente que os esconomistas parecem tipos do Departamento de Matemática, não do de Física. Isto é absolutamente verdade.

P - Tentemos avançar um pouco mais. Porque é que estes modelos matemáticos, que, apesar de tudo, nem sequer são muito complexos segundo os padrões da Matemática, provocam tal atracção? Será que a modelização funciona como um ritual iniciático que aproxima os economistas uns dos outros?

MB - A Matemática não é assim tão difícil, embora crie uma barreira à entrada. A maioria das pessoas pode aprender Matemática, mas tem que se estudar. É como se escrevessemos a Economia em Francês: seria uma barreira à entrada porque algumas pessoas acham difícil a aprendizagem de línguas estrangeiras. Não é preciso ser terrivelmente inteligente, mas tem que se ser paciente e gastar muito tempo com isso, portanto é uma barreira efectiva.

As pessoas que foram iniciadas têm então um interesse corporativo em levar a barreira a sério, cuidando dela e dando-lhe prestígio. De outra forma não funcionaria como barreira à entrada. Portanto, ao fim de algum tempo, passam a justificar a barreira à entrada porque possui esta técnica, ou virtude, particular e elegante. Depois de ter sido criada, justifica-se a si própria.

E acrescentarei outra coisa: a enorme quantidade de doutoramentos [Ph.D.s] em Economia nos EUA — quase cem por ano! Muitos deles não seguem a vida académica, mas todas as estimativas sugerem que entre 45% a 50% procuram emprego nas universidades. Eles aprenderam dos professores uma espécie particular de Economia e, obviamente, disseminam a mesma Economia nas suas lições e em publicações científicas.

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