Algumas questões acerca de método
Economia

Algumas questões acerca de método


As origens do pensamento ocidental encontram-se em boa parte na Antigüidade Grega. Um de seus expoentes foi Platão (428-347 a.C.), fundador da Academia, escola que privilegiaria o uso da matemática como forma de alcançar a verdade no saber. Certamente, essa herança intelectual deixou também marcas na Ciência Econômica.

Platão concebia em sua filosofia a existência de dois mundos: o mundo físico e o mundo das idéias. Os fenômenos que ocorriam na realidade física eram apenas cópias imperfeitas das formas ou idéias. Não é por outro motivo que Platão acreditava que a melhor forma de alcançar a verdade acerca das idéias era utilizando a matemática, um conhecimento dedutivo, que dispensaria a realidade física, sensorial. Para se chegar à idéia, seria necessário abstrair-se de todas as particularidades existentes no mundo físico, uma vez que essas eram imperfeições, detalhes que não seriam imprescindíveis ao conhecimento. Ou seja, sem generalizações, não se poderia fazer ciência.

A ciência econômica desenvolveu-se, sobretudo, pelo menos na corrente neoclássica, pela utilização do ferramental matemático para interpretar e analisar os fatos. É evidente que a utilização da matemática exige abstrações: não é possível modelar todas as particularidades existentes nos fenômenos, uma vez que modelar trata-se, de certa forma, de idealizar. Observemos o modelo de concorrência perfeita. Seus defensores afirmam que quanto mais próximo a realidade estiver desse modelo, melhor será o funcionamento do mercado em questão. É o mundo das idéias na ciência atual.

Criar modelos matemáticos exigem generalizações. Na verdade, a ciência exige generalização para podermos classificar fenômenos. Mesmo para sociólogos que não fizeram uso da matemática como Weber, tipos ideais são necessários para o estudo, mesmo nas ciências sociais, embora eles não correspondam com a realidade de forma absoluta. A questão que se coloca é se os modelos de índole matemática utilizados da ciência econômica não são demasiadamente gerais. Será que muito do fenômeno não é perdido no modelo, ou seja, será que não há excesso de abstração? O conhecimento derivado desse modelo é útil à explicação da realidade?

Incorfomada com a falta de um conhecimento confiável, a Escola Histórica Alemã no século XIX declarou, através de muitos de seus estudiosos, o caráter acientífico da Economia, pelo fato dos fenômenos serem diferentes demais uns dos outros. Essa escola, embora tenha deixado inúmeras contribuições, acabou perdendo a capacidade de manter-se como paradigma – talvez por não se acreditar como ciência – perdendo o debate para dar lugar aos neoclássicos. Entretanto cabe indagar se algumas especificidades não devem ser consideradas para alcançar um melhor conhecimento da realidade. A CEPAL considerará a especificidade latino-americana, assim como a EHA considerou o problema da Alemanha da época, alcançando relativo sucesso (embora isso seja discutível).

O debate continua até hoje nos debates que economistas de diversas correntes promovem. De certa forma, é isto que está por detrás das acusações mútuas quanto aos métodos utilizados. Espero ter contribuído de alguma forma para instigar meus colegas na importância da questão do método, embora esse pareça um assunto de âmbito apenas filosófico e destinado apenas ao exercício frívolo de sinapses. Na verdade, é o método que determinará que caminho a Ciência percorrerá. Por exemplo, a Mecânica Clássica utilizou-se da abstração e dos modelos matemáticos. Essa noção relativizou-se a partir da Física Quântica. A Biologia, no entanto, é muito mais empírica e de caráter indutivo. As opções estão aí: resta saber qual é a melhor para a Ciência Econômica.



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