Economia
Mais Crise
À escala internacional, são já vários os Institutos de Pesquisa Económica, alguns dos quais bastante reputados, que assumiram a sua decisão de suspender a divulgação de projecções para os próximos trimestres, atendendo ao momento de especial incerteza que se vive na economia mundial.
E, atendendo à evolução recente das projecções para a economia nacional, quando ainda não atingimos um terço do ano de 2009, tal opção parece de todo avisada, em defesa da credibilidade de tais instituições.
Bem pelo contrário, seria de esperar que as entidades que não podem fugir a tal responsabilidade e a quem compete proceder à divulgação de dados periódicos sobre a evolução da economia nacional – veja-se o caso do Banco de Portugal – adoptassem uma postura de especial rigor e exigência, de forma a não transmitirem informações ou juízos erróneos para a generalidade dos agentes económicos.
Poder-se-á pensar que a economia tem de facto sofrido um processo de degradação acelerada que previsão alguma poderia antecipar.
Poder-se-á dizer que não convém que uma entidade como o Banco de Portugal assuma um discurso excessivamente pessimista, porque tal poderia induzir, por si só, uma superior retracção dos agentes económicos nas suas decisões de investimento e consumo.
Mas não se pode admitir que, à medida que cada uma das anteriores previsões vai sendo dilacerada pela realidade, o Governador do Banco de Portugal adopte um discurso que parece querer branquear a verdadeira amplitude da crise e escamotear as responsabilidades próprias da Governação no seu desenvolvimento e o fracasso das medidas de resposta à crise que vão sendo pomposamente anunciadas.
A esta luz, há factos que nos merecem seguramente uma enorme perplexidade.
Em Janeiro último, o Governo optou por submeter ao Parlamento um primeiro Orçamento Rectificativo tendo em conta a inversão das projecções e a estimativa de uma retracção do produto na ordem dos 0,8% no ano em curso.
Aquando da discussão desse documento na Assembleia da República, e tal como já acontecera com o Orçamento de Estado original no final de 2008, sobravam já as previsões de conceituadas organizações internacionais que apontavam para uma quebra no produto bastante superior (na ordem dos 1,6% do PIB).
De acordo com os dados do Boletim de Primavera do Banco de Portugal recentemente divulgados, a nova previsão de quebra do Produto Interno Bruto atinge os 3,5%, posicionando--se como a maior retracção após 1975 (quando o Produto caiu 4,3%).
Na base desta evolução está uma profunda quebra do Investimento e das Exportações (em mais de 14% cada) e de uma nova diminuição no Consumo Privado (em 0,9%). Como contrapartida positiva, registe-se apenas um aumento ligeiro do Consumo Público e uma diminuição das Importações em linha com o abrandamento da actividade económica.
Registe-se por exemplo que, em relação ao Investimento, o Governo estimara uma subida de 13% em 2009, pelo que os dados mais recentes atestam da quebra da confiança dos empresários e do artificialismo que ainda impende sobre muitos dos investimentos públicos anunciados.
Se esta evolução pode permitir uma melhoria da situação da nossa Balança Externa, aguarda-se com expectativa as repercussões que uma recessão desta dimensão poderá ter sobre os níveis do Desemprego e sobre o Défice das Contas Públicas.
A este nível, está também por explicar a hesitação do Governo em submeter um novo Orçamento Rectificativo, mais consentâneo com as previsões agora disponíveis.
Ainda segundo o Governador do Banco de Portugal, a recuperação da economia nacional está fortemente dependente da situação da Europa e dos demais Países desenvolvidos, sendo que não é previsível uma retoma significativa anterior a 2011.
Do outro lado da moeda destes dados, o mesmo Boletim da Primavera continha um artigo do meu amigo e colega de curso Nuno Alves, do Departamento de Estudos Económicos do Banco de Portugal, que sugeria que Portugal teria em 2006 cerca de dois milhões de pobres, dos quais 300 mil eram crianças.
Essa análise considera um indivíduo pobre se, num determinado período, o seu nível de rendimento (despesa) for inferior a 60% do rendimento (despesa) mediano em Portugal, fixando o limiar de pobreza num rendimento de 382 euros mensais em 2005, a preços desse ano.
O mesmo estudo conclui que as classes particularmente vulneráveis à situação de pobreza são as famílias em que pelo menos um adulto está desempregado, idosos com baixos níveis de educação, famílias compostas só com um adulto solteiro que não trabalha e que tem filhos e famílias numerosas em que pelo menos um adulto não trabalha.
Quantos serão agora?
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