«Os progressos na gestão da informação têm afectado claramente o processo de investigação. Os académicos do século XVII podem ter tido acesso, quando muito, a uma ou duas revistas e a uns poucos livros relevantes. Talvez lessem tudo a que pudessem deitar mão, de forma indiscriminada. Em contraste, no século XX, a explosão massiva de produção académica conduziu a uma especialização, com os investigadores necessitando de ler revistas apenas do seu estreito campo. Um investigador efectivo necessitava saber quais os jornais e livros que poderiam conter informação relevante para o seu campo e também necessitaria de uma estratégia de busca manual destas publicações, à procura de artigos ou parágrafos relevantes.
A organização da documentação para académicos desenvolveu-se rapidamente no século XXI. Muitas revistas estão agora disponíveis em sítios da Internet de acesso livre, ou numa grande variedade de bibliotecas digitais de base ampla. Mais ainda: existem interfaces de busca para bibliotecas digitais crescentemente sofisticados, que permitem aos autores, através de palavras-chave, fazer buscas com ampla cobertura, em todas as disciplinas. A busca por palavras-chave é um instrumento crucial que pode ter um grande impacto no modo como a investigação é conduzida e nas capacidades requeridas para se ser um investigador efectivo. A busca por palavras-chave pode aumentar a ocorrência de descobertas fortuitas [serendipity] ao procurar documentos fora da área temática principal, que uma busca de tipo tradicional não teria permitido. Isto pode proporcionar visões [insights] inesperadas para um problema, vindas de campos de investigação desconhecidos. No caso da descoberta de uma nova teoria pertinente, isto pode mudar mesmo a natureza da própria investigação, empurrando-a para fora das fronteiras disciplinares e tornando-a multidisciplinar. O que certamente já acontece, embora não se saiba com que frequência.
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Uma implicação da actual disponibilidade de mecanismos de busca para bibliotecas digitais de amplos conteúdos é a de que é razoável esperar que um investigador académico as utilize. As tecnologias, contudo, não emergem no mundo completamente formadas; elas interagem com os consumidores em muitos estágios de produção e concepção. Não obstante, as bibliotecas digitais saíram da sua infância e parecem estar a estabilizar no fornecimento de um conjunto de características em diferentes papéis. Estas características incluem a disponibilização de acesso livre aos títulos e resumos de artigos de revistas, mas não ao conteúdo integral. Como já dissemos acima, as comunidades de investigação são organizações sociais e não são apenas conduzidas pela lógica, portanto a possibilidade de que algo possa acontecer ou de que possa ser vantajoso não constitui um argumento forte no sentido de que tenha mesmo que acontecer.»