Ensáio - Calculo econômico no socialismo e natureza da informação dispersa, parte 2
Economia

Ensáio - Calculo econômico no socialismo e natureza da informação dispersa, parte 2


Esse texto é continuação da parte 1: Calculo econômico no socialismo e natureza da informação dispersa, parte 1


O entendimento Mises-Hayek do processo de mercado e sua relação com o problema do socialismo


Para compreendermos porque que o socialismo é impossível primeiro é necessário entender exatamente qual o problema que o processo equilibrativo resolve, tanto no mercado do mundo real, onde o processo equilibrativo opera através da ação humana como também no hipotético mercado walrasiano, onde o processo equilibrativo opera através da casa de leilão walrasiana. O processo equilibrativo é um processo de coordenação, ou seja, é um processo onde emerge uma tendência ao alinhamento dos planos dos vários indivíduos e dessa maneira a satisfação de suas expectativas presentes na formulação dos seus planos. É um processo de geração de conhecimento, o conhecimento necessário para a elaboração de planos que antecipem corretamente as conseqüências das escolhas formuladas no próprio plano, esse processo de geração de conhecimento é um processo que ocorre espontaneamente com a passagem do tempo na mente de todos os indivíduo. O entendimento de como que o mercado consegue somar as capacidades perceptivas de milhões de indivíduos é fundamental para entender porque que o planejamento central de uma sociedade complexa é impossível.


Desde o desenvolvimento da moderna economia subjetiva os economistas sabem que o valor dos fatores de produção é determinado pela utilidade marginal dos bens de consumo produzidos a partir desses fatores de produção. Ou seja, os preços dos fatores de produção são determinados pela capacidade desses fatores em satisfazer as necessidades humanas, então esses preços refletem a valoração subjetiva dos indivíduos em relação ao produto derivado dos fatores.


O problema é justamente entender exatamente como que as valorações dos indivíduos são transmitidas através do sistema econômico primeiro para os preços dos bens de consumo e depois para os fatores de produção, ou seja, a força que faz o mercado tender a igualar o preços dos fatores com os preços do que esses fatores podem produzir. A força que move os preços dos fatores para o alinhamento, ou seja, que move o mercado em direção ao sistema de preços que seria estabelecido no equilíbrio é o processo de descoberta de erros nos planos de ação formulados anteriormente, ou mais especificamente, o processo de percepção de oportunidades de lucro não exploradas. Se os preços dos fatores são diferentes dos preços do que eles podem produzir, então temos uma possibilidade de lucro na compra desses fatores e na sua utilização para atender as preferências dos consumidores. Quando um empreendedor descobre que os preços de um mesmo bem são diferentes em 2 partes do mercado, ele compra onde são mais baratos e vende onde são mais caros, logo surge uma tendência a equalização dos preços dos bens pelo mercado. Num mundo onde nenhum agente erra, temos uma equalização dos preços instantânea, um mundo onde nenhum agente erra é um mundo onde todos sabem de tudo o que precisam para não errar, o que significa que os agentes possuem todo o conhecimento relevante para seu processo de escolha.


Nota-se que a cesta de fatores de produção necessária para produzir um bem de consumo qualquer mais os juros sobre o tempo necessário a produção é, economicamente, o mesmo bem que o bem de consumo final, já que do ponto de vista econômico (subjetivo) o que define um bem é sua capacidade em satisfazer as necessidades humanas. Se uma cesta de fatores de produção mais o tempo necessário a produção resultam num bem de consumo, essa cesta de fatores É esse bem de consumo no passado. Isso significa que se os agentes tiverem conhecimento perfeito os preços das cestas dos fatores de produção são igualados aos preços dos bens de consumo final.

Se imaginarmos que os preços do mercado estejam perfeitamente alinhados, então o calculo econômico através desses preços é perfeito, já que esses preços de equilíbrio levam as preferências de todos os agentes e os dados do mercado em consideração. Nessa situação o cálculo econômico com os preços de mercado equivale as escolhas que uma pessoa sozinha toma quando faz a relação de custos e benefícios de todas as ações possíveis, mas incluindo os custos e benefícios que incidem sobre todas as pessoas. Uma situação onde temos um agente solitário que tem uma percepção perfeita dos custos e benefícios de todas as ações possíveis é uma situação de equilíbrio para essa economia com um agente individual. Já num mercado a situação é diferente, os agentes não precisam ter uma percepção perfeita de todos os custos e benefícios que incidem sobre todas as pessoas de todas as suas ações possíveis, mas apenas conhecer os preços, suas posses e suas próprias preferências. Ou seja, um mercado em completo equilíbrio não precisa que cada agente tenha conhecimento perfeito para estar em equilíbrio, mas apenas que a totalidade do conhecimento de todos os agentes seja completa (perfeita) e esteja integrada através do sistema de preços.


Mas se assumirmos que o mundo está sempre em equilíbrio, então assumimos que as capacidades perceptivas dos agentes são perfeitas. E isso significa que não faz nenhum sentido imaginar que o conhecimento é disperso já que não existe nenhum problema relacionado com o conhecimento. O problema não é apenas integrar o conhecimento disperso mas é na verdade como conseguir integrar as capacidades de cada mente em gerar conhecimento, para aproximar a realidade econômica do equilíbrio. Os preços do mercado nunca são perfeitos, sempre são preços falsos num certo grau, e é exatamente através dos preços falsos que temos a geração da tendência a descoberta da falsidade desses preços devido a essas diferenças nos preços.


A impossibilidade da existência de uma sociedade socialista


A força coordenadora do mercado é derivada do sistema de preços e dos lucros e prejuízos que são derivados desse sistema de preços. Essa força é justamente mais forte quanto mais livre for o mercado, já que quanto mais livre for o mercado maior será a liberdade dos agentes em utilizar sua capacidade de percepção para iluminar os dados do sistema econômico através da percepção de oportunidades lucrativas de investimento. Num livre mercado os fatores de produção são propriedade de milhões de pessoas e essas milhões de pessoas estão sempre agindo e percebendo como utilizar seus recursos da melhor maneira possível, dado a capacidade dos proprietários em perceber e remediar erros em suas escolhas com a passagem do tempo. Além disso, como qualquer empreendedor alerta pode perceber usos mais eficientes para os fatores do os usos onde eles estão alocados no presente pelo seu proprietário, então a propriedade dos fatores sempre tende a ser distribuída segundo a capacidade empresarial de cada indivíduo, ou seja, no mercado as empresas sempre tendem a ter a melhor direção possível, já que se um empreendedor mais habilidoso descobre como organizar uma empresa de uma maneira melhor do que a esperada pelo proprietário da empresa, então esse empreendedor vai conseguir lucrar comprando a empresa pelo que o proprietário espera que a empresa valha e vendendo o produto derivado dos fatores em propriedade da empresa por um preço maior do que o valor esperado pelo antigo proprietário, devido a descoberta da ineficiência na gestão da empresa não percebida pelo proprietário original.


Mas essa tendência de pulverização da posse sobre os fatores de produção (e de que os melhores empreendedores sempre sejam proprietários de fatias dos fatores proporcionais a sua capacidade empreendedora) não existe no socialismo devido a própria definição de socialismo: Uma sociedade baseada na propriedade estatal dos meios de produção. O socialismo é um tipo de sociedade onde a totalidade dos meios de produção são geridos por um único plano, que embora não seja um plano concebido por um único indivíduo mas por um grupo de indivíduos do comitê de planejamento central, é um plano que esta restrito a capacidade empreendedora de apenas uma mente individual. Já que mesmo que vários indivíduos produzam o plano, ele é uma criação consciente para cada indivíduo envolvido, ou seja, é um plano que existe para cada mente individual, restringido sua complexidade ao nível viável com que a mente humana consegue lidar. O capitalismo supera o problema porque as ações dos empreendedores sempre tem conseqüências não percebidas, transcendendo a capacidade individual de planejar. O problema então é que se o estado assumir todas as funções de todos os empreendedores num sistema econômico capitalista mas está contando apenas com a capacidade de lidar com problemas concebíveis por uma única mente individual, então ele acaba se tornado completamente incapaz de planejar racionalmente um sistema econômico de uma sociedade inteira, já que planejamento racional significa a formulação de um plano de ação predominantemente coerente com os dados relevantes para a mente do planejador.


Concluindo: Se colocarmos como pressuposto básico no modelo a essência do processo de mercado como concebido por Mises e Hayek, então o socialismo é cego e não gera nenhuma tendência a geração do conhecimento necessário para iluminar os ilimitados caminhos possíveis com que o planejador central se depara na formulação do plano que a sociedade deve seguir. Isso significa que uma economia socialista é impossível.




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