Economia dos falsos orgasmos
Economia

Economia dos falsos orgasmos



  Ora finges tu, ora finjo eu,
  Ora finges tu mais eu.


O ubíquo "dilema do prisioneiro" da Teoria dos Jogos não serve só para explicar conflitos entre países e concluios entre empresas. Que tal o acto de fingir o orgasmo? Esta situação foi objecto do estudo de Hugo Mialon, "The Economics of Ecstasy", que deu origem ao artigo da revista Slate, "The Economics of Faking Orgasm".

Curiosamente, este economista realizou o estudo no âmbito duma preocupação de natureza jurídica, relacionada com a seguinte questão: «como é que a Quarta Emenda [1] afecta os incentivos, tanto para a polícia como para os criminosos, e como é que estes incentivos determinam o comportamento?» [2] (ver abaixo links para alguns textos de H.Mialon).

Tanto o homem como a mulher podem transmitir ao seu parceiro sinais falsos de que estão a atingir o êxtase durante o acto amoroso. Julga-se que os homens não fingem o orgasmo, mas um estudo americano - 2000 Orgasm Survey - detectou que 24 % dos homens também fingem. O mesmo estudo revela que 72 % das mulheres fingiu pelo menos uma vez na sua vida amorosa recente, e 55% dos homens dizem que conseguem saber quando elas fingem.

Mialon procurou averiguar porque é que as mulheres (algumas vezes) fingem o orgasmo, e porque é que os homens (algumas vezes) duvidam delas. O estudo de Mialon prevê que o amor, formalmente definido como uma mistura de altruismo e "possessividade", aumenta a probabilidade da encenação de falsos orgasmos, embora mais para as mulheres do que para os homens. Os dados do 2000 Orgasm Survey confirmam as previsões do estudo. Também mostraram uma relação positiva entre o nível educacional e a tendência para simular o orgasmo.
«A razão mais evidente para fingir o orgasmo seria as satisfação do parceiro. Mas e no caso de uma mulher que já não gosta do seu parceiro, também fingiria? A resposta é: sim. Suponha-se que ele é muito inseguro e está sempre a suspeitar que ela o engana. Suponhamos também que aquilo que ela verdadeiramente odeia é ter um parceiro que está sempre errado. Então, como ele pensa sempre que ela mente, ela tem de fingir para que ele tenha razão. Cada fingimento dela reforça as dúvidas do parceiro, que por sua vez reforçam o fingimento dela. Temos pois aquilo a que os economistas designam como um "equilíbrio".

«Por outro lado, este equilíbrio só se mantém se ele tiver uma boa razão para ter sido inicialmente inseguro. Qual seria esse motivo? Bem, crê-se que as mulheres atingem o ponto mais alto da sua capacidade sexual por volta dos 30 anos. Portanto, se ela estiver muito afastada dos 30, em qualquer direcção, a sua idade pode ser suficiente para desencadear a insegurança do parceiro. Por isso Mialon considera que mulheres muito jovens ou muito idosas têm maior probabilidade de fingir do que mulheres nos seus "trintas".

«Mas as coisas tornam-se muito mais complicadas - e muito mais realistas - se ele e ela estiverem apaixonados, situação em que cada um deles se preocupa com a felicidade do outro e também em captar o seu interesse. Um pouco de Teoria dos Jogos elementar leva Mialon a concluir que as mulheres são mais propensas a fingir quando estão apaixonadas, e que este efeito é ampliado quando a sua idade está longe dos 30.»»
E Steven E. Landsburg, autor do artigo da Slate. conclui deste modo:
«O meu velho amigo Steve Zucker costumava dizer que o sexo e a actividade académica se complementam muito bem, uma vez que é possível praticar qualquer delas enquanto se pensa na outra. Não sei em que é que Hugo Mialon pensa quando está a fazer amor (provavelmente invocaria a Quinta Emenda - o direito a ficar calado) mas ele pensou neste tópico de um modo muito original, o que, dada a atenção que o assunto tem merecido nos passados milhares de anos, não é um pequeno feito.»
Referências no Mahalanobis e no Marginal Revolution
Página de Hugo Mialon
Textos de Hugo Mialon (em co-autoria):
  • Price Discrimination and Market Power (2005)
  • Private Antitrust Litigation: Procompetitive or Anticompetitive? (2005)
  • A Strategic Theory of Antitrust Enforcement (2005)
    «The right of the people to be secure in their persons, houses, papers, and effects, against unreasonable searches and seizures, shall not be violated, and no Warrants shall issue, but upon probable cause, supported by Oath or affirmation, and particularly describing the place to be searched, and the persons or things to be seized.»
    [2] - Muitas mulheres não acharão graça nenhuma a esta analogia entre o jogo do "gato e do rato" de polícias e ladrões, e as mulheres que fingem orgasmos e homens que os detectam (tal como os ratos não acharão à primeira analogia, nem as mulheres a esta terceira). Mas Mialon dispunha de dados preciosos relativamente a uma situação de simulação, revelados no âmbito do inquérito referido, que usou para estudar uma situação equivalente. Resta saber se essa equivalência realmente existe pois, para além da semelhança formal, tratam-se de situações aparentemente muito díspares.



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