Economia
Desemprego dos jovens e jornalismo
João Pinto e Castro critica uma reportagem e análise feita pelo Jornal de Negócios dia 19 de Maio com a qual discordo. O tema é o desemprego de jovens qualificados e tem os seguintes títulos (que
JPC destaca)
Primeira página: "Jovens qualificados em risco de viver pior que os pais"
Página 19: "Jovens com empregos mais precários e salários em queda"
Página 20: "Uma geração qualificada que vive pior do que os pais"
Começo por fazer uma declaração de interesses: sou subdirectora do Jornal de Negócios. Tenho por isso responsabilidade por esse trabalho que foi obviamente feito com toda a seriedade.
A minha discordância:
- JPC começa por dizer que "o primeiro e o terceiro título dizem coisas diferentes: o primeiro anuncia uma possibilidade, o segundo afirma um facto". E questiona "Onde está a verdade?". Não existe razão nesta critica porque: a) O primeiro título é o da primeira página do jornal, não contradiz em nada o de dentro, é apenas mais recuado porque titula todo o trabalho que vai das páginas 19 a 21 e não generaliza o que não é generalizável uma vez que: b) O segundo título, mais afirmativo, titula uma reportagem em que são revelados quatro casos. O título sintetiza exactamente esses quatro casos: qualquer um deles vive pior que os pais.
- "Segundo o jornal, as estatísticas do INE (que não tive oportunidade de confirmar) revelariam que, em 2007, o salário médio dos jovens entre os 25 e os 34 anos representaria 87% do salário médio nacional contra 96% em 1999", escreve JPC. Os dados são do INE e não há nada a dizer. Concordaremos que nesse período aumentou o número de licenciados e era de esperar que a percentagem do salário médio, no mínimo, se mantivesse.
- Acrescenta que: "Esses dados referem-se à totalidade dos jovens, não aos mais qualificados". Claro, por isso é que o título da primeira página opta pela expressão "em risco" e o título do trabalho onde estão esses dados sintetiza o quadro que os números dão: precariedade e salários em queda...
- ...Os salários em queda merecem também a critica de JPC: "A queda dos salários relativos não implica a queda dos salários reais em termos absolutos". Tem toda a razão. O salário médio nacional aumentou entre 1999 e 2007 e para dizer que o salário caiu em termos absolutos e nominais é preciso verificar se essa subida do "bolo" foi inferior à queda da "fatia", ou seja, se a queda de nove pontos na fatia não foi compensada pela subida no salário médio. E essa conta o Jornal de Negócios não faz. Os dados que fornecemos aos leitores do Jornal de Negócios não permitem concluir que o salário caiu mas permitem concluir que o salário em percentagem do salário médio caiu, ou seja, comparativamente a 1999 ganham relativamente menos. O que está explícito no texto mas não no título. O título não mente, está incompleto.
Por tudo isto não me parece que nós, Jornal de Negócios, tenhamos merecido as criticas que JPC nos faz.
À margem diria que não parece que existam dúvidas quanto às dificuldades que os recém-licenciados enfrentam nos dias que correm. Todos conhecemos histórias.
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