Economia
A recessão e o jornalismo
Dia 14 de Novembro de 2008 a primeira página do Negócios:
"Portugal vai terminar 2008 em recessão"o segundo título mais importante do Negócios no dia em que o
INE publicou a estimativa rápida da evolução do PIB no terceiro trimestre. O trabalho estava fundamentado com as previsões da Comissão Europeia e alguns economistas da banca.
Estava o jornal na bancas com este título quando saíram os números do
INE. Parecia que o Negócios se tinha enganado. O Instituto dizia que a economia tinha estagnado.
O primeiro-ministro manifestou nesse dia, em publico, o seu desagrado com o título de primeira página do Negócios.
Ainda que o texto estivesse inatacável - citava fontes credíveis como a Comissão Europeia.
Aos jornalistas disse: "A nossa economia resiste e continuará a resistir", afirmou José Sócrates, à margem de uma conferência promovida pela Caixa Geral de Depósitos.
Dia 9 de
Dezembro o
INE publica os dados finais do PIB do terceiro trimestre e afinal a economia tinha caído ligeiramente face ao trimestre anterior (menos 0,1%).
E dia 13 de Fevereiro o
INE revela que o PIB caiu 2% no quarto trimestre face ao trimestre anterior.
De acordo com a definição simplista de recessão
Portugal terminou o ano em recessão, como antecipou o Negócios usando apenas a
s regras jornalísticas - citando fontes como a Comissão Europeia.
Fizémos o nosso trabalho e é pena que mesmo quando é feito com toda a seriedade o poder - qualquer poder - seja tão irascível.
Os governos têm o direito e até o dever de gerir as expectativas. Os economistas têm o dever de analisar tecnicamente a conjuntura. Os jornalistas têm o dever de informar como uns e outros lêem a realidade.
O que os governos não têm o direito é de querer que também os jornalistas façam gestão de expectativas. Se o fizessem não estavam a cumprir o seu dever de informar/ relatar o que se passa de forma tão rigorosa como lhes seja possível.
Ninguém está feliz com o estado de recessão agravada pela queda da inflação em que o país vive. Bem pelo contrário. Quem me dera que estivéssemos errados.
Declaração de interesses: Sou jornalista e assumo neste momento funções como directora-adjunta do Negócios.
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