Economia
As (inevitáveis) nacionalizações na banca
Quando as armas tradicionais de mercado não funcionam entra em acção a artilharia pesada: a nacionalização.
Mais de um mês depois da violenta réplica da crise financeira iniciada há quase 15 meses, as autoridades da Europa e dos Estados Unidos deixam cair a ilusão de conseguirem resolver o problema "cada um por si" e desistem das convicções.
- Preparam-se para um plano global e em cooperação. George W. Bush e Angela Merkel enganaram-se na capacidade de lidar com o problema ao nível nacional.
- Preparam-se para entrar nos capitais dos bancos, ou seja, para nacionalizarem a banca, adoptando o modelo do Reino Unido como se pode ler aqui e aqui na declaração do Grupo dos Sete. A nacionalização foi pela primeira vez colocada como solução para o problema por Willem Buiter e depois acabou por ser subscrita pela esmagadora maioria dos economistas, incluindo Martin Wolf. Paul Krugman também. E os 750 mil milhões de dólares do Plano Paulson podem servir exactamente para isso, para nacionalizar.
A intervenção directa, via nacionalizações ou mesmo via administração das taxas de juro, face à dimensão da catástrofe parece-me ser a única solução. Um modelo seguido pela Suécia nos anos 90.
Devemos estar satisfeitos? Claro que não. Vai sair-nos do bolso - dos contribuintes. Mas é a melhor de todas as soluções, embora não seja igualmente negativa:
- Deixar cair os bancos era, 'by the book', a melhor solução: quem correu riscos excessivos e não soube gerir o seu negócio perdia o dinheiro; desincentiva aventuras futuras. MAS o efeito do ajustamento teria um custo tal que poderia matar o doente - a população em geral - com a cura.
- Compra activos tóxicos, como prevê (ou previa) o Plano Paulson é de longe a pior das soluções: premiavas com o dinheiro dos contribuintes, quem tinha feito mais asneiras e incentivava a novas e mais asneiras no futuro abrindo portas para uma próxima crise pior ainda que esta.
- Nacionalizar ou mesmo confiscar é um "castigo" tão violento para os accionistas como a falência. Há um racional para o dinheiro dos contribuintes: estão a pagar para não perderem as suas poupanças - e não para salvar quem fez asneira -, estão a pagar para minorar os efeitos económicos da crise financeira, enfim, estão a pagar para que as perdas de emprego sejam as mais baixas possíveis.
Mas a seguir deve proceder-se a privatizações sem premiar os que se revelaram incapazes de serem accionistas dos bancos.
As notícias da semana foram péssimas: Wall Street teve a pior semana desde 1933; a bolsa portuguesa regista a pior semana de sempre tal como as bolsas mundiais e com bolsas suspensas em alguns países.
Vamos ver se as autoridades conseguem trazer a calma neste fim de semana: Grupo dos 15 do euro reunidos domingo em Paris; Bush apela a uma resposta séria à escala global e Angela Merkel parece ter mudado de ideias e está com Nicolas Sarkozy na defesa de um plano europeu à inglesa e não à americana.
E ainda a instabilidade entre vizinhos ou a guerra dos depósitos entre o Reino Unido e a Islândia.
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