Diretamente da FOLHA DE S. PAULO, novamente DELFIM NETTO, comenta sobre o CÂMBIO.
O professor Carlos Antonio Rocca apresentou no Centro de Estudos de Mercado de Capitais, do IBMEC (em março deste ano), um interessantíssimo trabalho, com o título "Fatores da Taxa de Câmbio do Real: Uma análise Estatística". Nele, revela, como de costume, a sua integridade intelectual, a sua competência técnica, o seu pragmatismo e a sua cuidadosa modéstia nas conclusões.
Apenas para dar um exemplo das dificuldades de tais estudos, tomemos a moeda chinesa, o yuan. Há uma convicção generalizada, formada a partir de trabalhos com modelos apriorísticos e do uso de econometria sofisticada, de que ele está fortemente desvalorizado, o que facilitaria a invasão das exportações chinesas. Nos EUA, o Congresso, para atender à fúria dos sindicatos num ano eleitoral, está forçando Obama a declarar que a China "manipula" o seu câmbio.
Ocorre que a dúvida é geral. Basta dizer que a Goldman Sachs, cujo conhecimento dos mercados e competência são comprovados, estimou as taxas cambiais ("BRICs Monthly", 10/02, March 16, 2010) e concluiu que "o yuan, contrário à crença popular, não parece subvalorizado contra o dólar"! Quanto ao Brasil, diz o mesmo documento: "O real é uma das moedas mais sobrevalorizadas dos emergentes (cerca de 40%)".
O trabalho do professor Rocca não se aventura na tentativa de estimar a sobrevalorização do real. O seu objetivo secundário é tentar encontrar quais são as variáveis que provavelmente "explicam" a formação da taxa de câmbio real/ dólar e tentar medir a importância de cada uma delas. E, a partir do modelo, atingir seu objetivo principal: tentar medir o efeito da imposição do IOF de 2% sobre os investimentos estrangeiros.
O trabalho testa oito especificações e seleciona duas "melhores", que "explicam" mais de 3/4 das variações da taxa de câmbio real/dólar: 1) o próprio valor do dólar em relação a uma cesta de moeda; 2) o diferencial de juros EUA x Brasil; e 3), alternativamente, ou os investimentos na conta financeira total, ou os investimentos em carteira.
Em relação ao seu objetivo principal (o possível efeito do IOF), o trabalho afirma: "Não há razão para acreditar que a tributação do IOF sobre os investimentos estrangeiros em carteira tenha sido eficaz para reverter a tendência de valorização do real".
Em relação ao seu objetivo secundário (o que "explica" a taxa de câmbio), a conclusão é que "a principal variável doméstica na determinação da taxa de câmbio é o diferencial das taxas de juros Brasil x EUA". Logo, "ações voltadas para a redução sustentável dessa taxa são mais eficazes para evitar a valorização efetiva do real".