Economia
Agora eu entendi...
Vejam este trecho da entrevista do Grande Inquisidor do Ipea
Como se pisa no freio, já sabemos. Como se pisa no acelerador?Estamos vivendo um ciclo de expansão da economia fundado nos investimentos. Temos hoje uma poupança enorme. A dívida pública no Brasil é de 43%, 44% do PIB (Produto Interno Bruto). É dívida, mas é crédito. Esse dinheiro está circulando. O desafio nosso para sustentar o crescimento é fazer o deslocamento, com cuidado, do que está hoje na ciranda financeira para o investimento produtivo. Isso não se faz, necessariamente, somente reduzindo os juros. Se reduzirmos os juros, mas não tivermos uma agenda de investimentos em que o setor privado possa ter o retorno adequado, esse dinheiro vai embora.
Agora eu finalmente entendi. Dívida é dívida, mas dívida também é crédito. Logo, quanto mais dívida, mais crédito. Quanto mais crédito, mais crescimento. Então o negócio é o governo se endividar bastante para gerar muito crédito e acelerar o crescimento econômico. E, como para se endividar, o governo precisa gastar, o negócio é gastar muito...
É interessante notar que, para o Pochmann e seus asseclas, a conclusão é sempre que o governo deve gastar mais. Só a justificativa se torna anti-cíclica: se na recessão, é para aumentar a demanda; se na prosperidade, é porque a arrecadação mais alta o permite.
Fato é que o Pókemon não passaria no curso de Contabilidade Nacional em qualquer escola séria de Economia. Começa confundindo poupança (um fluxo) com dívida governamental (um estoque). É mais ou menos como afirmar que o fluxo de caixa de uma empresa é bom porque sua dívida é alta, i.e., uma afirmação que não faz qualquer sentido (algo como 2+2=amarelo).
O endividamento resulta do déficit público (a dívida nada mais é que a acumulação de déficits). Só que o financiamento do déficit público compete pela poupança nacional (e poupança externa) com o financiamento do investimento privado. Isto não é uma especulação; é uma identidade contábil. Podemos até dizer que numa identidade não há relação de causa e efeito, mas isto não é desculpa para ignorar a restrição contábil da forma como o Torquemada de Campinas o faz.
Gastos maiores do governo reduzem a disponibilidade de bens e serviços para o setor privado. Olhando este fenômeno pela ótica financeira, uma parcela a mais da poupança tem que ser direcionada para a aquisição de títulos da dívida pública (portanto não para aquisição de títulos provados). É óbvio, mas, por incrível que pareça, nem as obviedades são respeitadas.
E crédito é associado à demanda. Não há qualquer menção a como a oferta vai acomodar a expansão de demanda. É a velha Lei de Yas (o contrário da Lei de Say): a demanda, na visão dos “keynesianos de quermesse”, sempre gera sua própria oferta. Deve ser por este motivo que nunca houve inflação no mundo.
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