PAUL KRUGMAN, no ESTADÃO, comentando sobre a velha superstição.
Achei um exemplar da obra A Grande Depressão, de 1934, de Lionel Robbins, numa livraria de livros usados em Norwich. É muito revelador: sensato, repleto de tabelas e fatos, é um livro que, claramente, tem de ser visto como o trabalho de um observador sagaz – na verdade um sujeito muito sério.
Mas totalmente, completamente equivocado.
“A primeira razão fundamental para uma recuperação a partir da posição em que o mundo se encontra neste momento é reconquistar a confiança do setor privado”, afirma Robbins. “Mas como a confiança pode ser restaurada?” Ele se pronuncia contra a política monetária expansionista, mesmo para reverter a deflação de 1929 a 1933 – mas não dá nenhuma explicação lógica para isso; ao decidir que o problema era de “confiança”, declara que a expansão monetária cria “incertezas” e, em consequência, prejudica a confiança. E condena a política de taxas de câmbio flexíveis, porque isso cria incertezas e debilita a confiança.
Ao avaliar os escombros à sua volta, declara que a causa da depressão foi a intervenção excessiva do governo e que a solução, o que seria necessário para restaurar a confiança, seria (rufar de tambores) um retorno ao padrão ouro.
Você pode ver como este tipo de análise política baseada na superstição pode ter parecido plausível em 1934, embora mesmo a Teoria Geral de Keynes pudesse explicar como Robbins estava errado (e o fez). Mas, hoje, o que se esperava era que esses argumentos fossem coisa do passado.
O problema é que não. O novo informe do BIS vai muito no caminho de Robbins em 1934, com muito menos desculpas. Robbins sofria com a falta de uma estrutura para dar sentido aos fatos. O BIS, com tantos economistas, deparando exatamente com a síndrome econômica que Keynes analisou e, nesse aspecto, até Milton Friedman exigiria uma ação vigorosa, preferiu ignorar essa estrutura e, em vez disso, jogar o Calvinball monetário.
Eu, originalmente, concluiria esta postagem falando alguma coisa sobre estupidez, mas não é correto: as pessoas que trabalham no BIS não são estúpidas. O que ocorre neste caso é algo diferente e pior: estamos observando o desejo de uma respeitabilidade convencional pesando mais do que as lições da história; e observando um vago preconceito (que existe para servir aos interesses dos rentistas) triunfando sobre a análise.
A história não perdoará essas pessoas.