A última do Bresser Pereira (e do Márcio Holland)...
Economia

A última do Bresser Pereira (e do Márcio Holland)...


Não é a primeira vez que o professor emérito enfia o pé nessa jaca e aparentemente nenhum dos seus dependentes tem capacidade ou culhões para corrigir essa escorregada recorrente do gênio renascentista.

No artigo na Valor Econômico de 14 de janeiro de 2010, os professores da EESP/FGV Luiz Carlos Bresser Pereira e Márcio Holland duetam a quatro mãos sobre a política cambial chinesa e sobre os desequilíbrios globais ("global imbalances"). A tese dos autores é que a moeda da China não estaria desalinhada e para defender sua posição, eles lapidaram essa pérola:

"De outro lado, se a taxa de câmbio da China estivesse mesmo “desvalorizada” artificialmente, a ponto de ser a causa dos “desequilíbrios globais”, a China deveria também gerar superávits comerciais com os demais países asiáticos. Não é isso que acontece. O gráfico mostra o saldo comercial das economias dinâmicas asiáticas, a saber, Japão, Coreia, Malásia, Cingapura, Tailândia e Vietnã, com a China."

Em resumo, para os autores a observação que a China tem déficits comerciais com Japão, Cingapura ou Coréia seria evidência que o renminbi não estaria desalinhado.

Primeiro, é óbvio para qualquer pessoa que pensou no problema por mais de 15 minutos que desalinhamento cambial é um fenômeno multilateral, não bilateral. Mas deixa para lá...

Pois essa não é a pérola a que me referia... O que os professores parecem ignorar é que a China é a última parada em uma linha de produção que começa no Japão, Cingapura, Taiwan e Coréia do Sul e tem como destinação final os mercados do resto do mundo, em particular dos Estados Unidos. Concretamente, a Coréia ou Taiwan exportam placas de memória ou semicondutores para a China, onde firmas muito frequentemente de propriedade coreana ou taiwanesa montam o equipamento e exporta-o para os EUA (metade das exportações chinesas são feitas por firmas estrangeiras, mais um quarto por joint ventures, vide tabela 2 em Manova e Zhang).

Para ter uma idéia do volume desse comércio, em 2005, firmas estrangeiras com plantas na China exportaram 276 e importaram 228 bilhões de dólares. Parte substancial dessas exportações vai para os Estados Unidos e dessas importações vem dos países mais desenvolvidos do Leste Asiático.

Assim, seja lá qual for a taxa de câmbio, a China vai ter um déficit comercial com a Coréia. Mais que isso: quanto mais desvalorizado em termos reais o renminbi estiver, mais competitiva vai ser a linha de montagem chinesa, e provavelmente maior vai ser o déficit comercial chinês com a Coréia, que é dominado pelo comércio de bens intermediários que vão ser montados pela mão-de-obra barata da China.

ADENDO: Também soa bem engraçada a caracterização do Dani Rodrik como "economista ocidental". E viva a comédia involuntária!



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