Ainda não há muito tempo "toda a gente" (um famoso personagem criado por Gil Vicente) dizia que quem mais se baldava ao trabalho eram os "europeus" (personagem que ainda não existe, apesar das inúmeras tentativas) e que, por isso, estavam a ficar para trás, em termos de produtividade, face aos americanos. Mas eis que dois desses workaholics americanos - Mark Aguiar e Erik Hurst - decidem «construir 4 diferentes medidas de lazer, a mais estreita das quais inclui apenas actividades que toda a gente considera de relaxamento ou de diversão; a mais abrangente inclui tudo o que não está relacionado com um trabalho remunerado, tarefas domésticas ou simples deslocações.» Pois bem: seja qual for o indicador utilizado os americanos, ao longo dos últimos 40 anos, têm ganho mais tempo livre do que pensavam. A discrepância entre este estudo e os anteriores parece decorrer de questões metodológicas. Os estudos anteriores apoiaram-se exclusivamente nas estatísticas oficiais sobre "trabalho remunerado", não cuidando de saber o que é que se passava efectivamente nos períodos restantes. Os investigadores referidos analisaram o tempo gasto em compras, confecção de alimentos, deslocações e manutenção da casa. São estas ocupações que levam as pessoas a dizer que estão muito sobrecarregadas com trabalho - principallmente as mulheres trabalhadoras com filhos. O estudo mostrou que os americanos gastam agora muito menos tempo nestas tarefas do que há 40 anos atrás, devido a várias causas: aparelhagens domésticas, entregas em casa, internet, compras 24 horas e serviços domésticos a preço acessível. Tudo isto aumentou a flexibilidade e libertou tempo às pessoas. Aguardemos agora que alguém faça o mesmo exercício de análise aos europeus. O estudo de Mark Aguiar e Erik Hurst encontra-se expresso neste paper publicado pela Reserva Federal de Bonston: "Measuring Trends in Leisure: The Allocation of Time over Five Decades" (pdf). [Sim, o estudo abrange um período 40 anos, desde 1965 até ao presente, mas percorre 5 décadas, capice ?] |