Economia
A RELAÇÃO COMERCIAL BRASIL - EUA
Por Ederson Vieira Grandi
Este texto se trata de resposta a dúvidas da colega Manuela Xavier Ribeiro de Souza, do curso de economia da UCS, que devido à relevância, julguei de importância sua publicação. Seguem, abaixo, as perguntas e suas respostas (os dados foram extraídos da The Economist e do site www.analisecomercioexterior.com.br):
Manuela Souza : “Olá meu caro, sou eu mais uma vez, estive lendo mais um de seus artigos e bateu-me uma certa dúvida....embora saibamos que as relações Brasil e EUA, são muito próximas desde a primeira guerra mundial, pode-se dizer que essa relação continua da mesmo jeito?
Ederson Grandi: Creio que estejas falando do artigo a respeito da Rodada de Doha e das relações em âmbito comercial.
As relações entre Brasil e EUA são em âmbito de acordos bilaterais. Mas apenas 1,4 % das exportações dos EUA são destinadas ao Brasil. Os principais produtos que eles exportam são “veículos e auto-peças” e “aparellhos elétricos”.
Mas o Brasil é o 15º no ranking dos destinos das exportações dos EUA. O que mais o Brasil adquire deles é “veículos e auto-peças”. O maior destino das exportações norte americanas é o Canadá, assim como o do Brasil é a Argentina.
Do Brasil, os EUA têm adquirido apenas 1,3 % do total de nossas exportações, sendo o petróleo o principal produto adquirido.
Em termos monetários, as relações de comércio entre o Brasil e os EUA têm sido mais favoráveis ao Brasil. Desde 1985, a maioria dos anos o Brasil tem vendido mais aos EUA do que comprado deles.
Porém não é apenas o Brasil que possui vantagens comerciais sobre os EUA. O saldo negativo da balança comercial dos EUA chega a mais de 6% do PIB (total da produção de bens e serviços, para uso final, nos EUA em um ano)!
Os EUA, em uma tentativa de reverter este quadro idealizou a ALCA, a fim de aumentar suas exportações ao vizinhos e melhorar o saldo da balança comercial. Trata-se de um acordo multilateral prejudicial a países que possuem, em sua pauta de exportações, maior quantia de bens agrícolas. Isto porque estes bens, além de estarem sujeitos ao fator clima, possuem menor valor agregado, prejudicando os termos de troca do país. O resultado é um saldo negativo na balança comercial, na conta corrente e no balanço de pagamentos.
OBS: Exportação de bens Venda de serviços
(-) Importação de bens (-) Compra de Serviços
= Balança Comercial = Balança de Serviços não-fatores
Serviços de Fatores (juros pagos por empréstimos externos, dividendos e cupom de debentures)
+Balança de serviços não-fatores
=Balança de serviços
Balança Comercial
+ Balança de Serviços
+ Transferências Unilaterais (ex.: envio de dinheiro à família em outro país)
= Conta corrente (ou conta de transações correntes)
Manuela Souza: Levando em consideração a ânsia do Brasil em ser potência latina, isso não assusta os EUA? Ou nossa posição só interfere na ALCA? De que forma isso tem sido abordado pelo Itamaraty?
Ederson Grandi: O Brasil não é o maior destino das exportações norte-americanas (apenas 1,4 % de suas exportações).
O papel brasileiro que interessa aos EUA é de maior exportador de algumas commodities, o que lhe coloca como “líder” entre outros países em desenvolvimento, em termos de influencia de decisões comerciais. Por exemplo, em termos de negociações que envolvam commodities, a decisão do Brasil tem importância decisiva. Além disso, a criação do G-20 é um processo em que o Brasil tem a oportunidade de se colocar como líder entre os países em desenvolvimento.
Os EUA precisam resolver o déficit na conta corrente, e com certeza o Brasil pode ser uma pedra no sapato deles, em termos de defesa dos direitos econômicos, principalmente o de proteção à industria nascente, frente aos países latinos.
Mas estas questões são políticas, e política muda a cada mandato. O atual Governo brasileiro tem sido omisso em relação ao assunto (principalmente devido à opinião pública). Enquanto isso, o presidente Bush deixou claro que, de sua parte, a proposta da Alca vai mudar: os EUA não estão dispostos a redução dos subsídios agrícolas. Sua prioridade são acordos bilaterais.
O Itamaraty tem trocado 6 por meia dúzia. Ser omisso em relação à Alca, e correr atrás de Doha, na ingenuidade de conseguir a redução dos subsídios agrícolas, está pedalando na neve, e temo que de olhos fechados!
Manuela Souza: E quais as relações que talvez tenham sido prejudicadas do ponto de vista político ou econômico?
Ederson Grandi: Os EUA estão tão ocupados com seus problemas conjunturais, que a estas alturas tudo é lucro. O etanol lhes é interessante, a atual maior reserva de petróleo do mundo é brasileira, o crescimento econômico brasileiro (ou crescimento do PIB real) é maior que o norte americano. Vão reclamar do que? Creio que nenhuma relação esteja prejudicada entre o Brasil e os EUA
O Brasil, economicamente tem muito o que avançar. Pode crescer a taxas similares aos demais emergentes. Precisa trabalhar o cambio sobrevalorizado, as restrições externas que possui e reduzir a taxa de juros básica que continua a ser uma das maiores do mundo.
Politicamente, precisa aproveitar melhor as oportunidades, como o caso do G-20. Também o embaixador chines deixou claro, em entrevista à rede Bandeirantes, que o apoio da China, e outros, à entrada do Brasil no conselho de segurança da ONU depende do Brasil consegui conquistar o apoio ao menos de seus vizinhos (até a argentina tem se colocado contra!).
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