Economia
A lição de economia política de Silva Lopes
José Silva Lopes, ex-Governador do Banco de Portugal e ex-Ministro das Finanças, dá uma lição de Economia Política no Jornal de Negócios de hoje. Num artigo longo de 4 páginas, Silva Lopes analisa os efeitos negativos do 3º choque petrolífero da economia portuguesa. Em síntese temos os seguintes aspectos:
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Expoliação da riqueza nacional. Se o governo acertar na actual previsão de 115,5 dólares/barril para 2008, esta cotação média está 24% acima do preço médio de 2007 e isso pode significar 1200 milhões de euros adicionais com a factura energética. Aquela quantia corresponde a uma perda pura da economia nacional, a favor dos nosso fornecedores externos de energia. É desvantajoso baixar o ISP porque isso embarateceria artificialmente os combustíveis, aumentando o seu consumo. É preciso moderar o consumo energético.
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Enfraquecimento da economia. O crescimento económico retrai-se, a evolução mais simpática dos salários reais paga-se no desemprego mais pesado.
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Aumento das contendas sociais. O episódio das lutas dos camionistas ilustra a tentativa de passar a "batata quente" das perdas para terceiros (depois dos camionistas podem seguir-se os agricultores, os pescadores, os taxistas e outros "prejudicados"). O Governo deve evitar ceder, visto que 1) ou agrava o problema ou 2) é injusto nas transferências sociais das dificuldades. Não é de enjeitar subsidiar passes sociais ou o consumo de electricidade das famílias mais pobres.
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Bye-bye política económica. O escudo já não existe quase há 10 anos e portanto não podemos desvalorizar a moeda nacional. A política monetária é decidida por Frankfurt e portanto não podemos baixar as taxas de juro. Não existe espaço de manobra nas contas públicas para expansionismos. Silva Lopes escreve "Muitos dos políticos que temos consideram natural que o Estado continue a endividar-se indefinidamente a ritmo acelerado, como sempre tem sucedido desde o 25 de Abril,
e em particular durante os governos dos últimos 15 anos anteriores à data de posse do actual" (p.11; sublinhado pessoal).
Descodificação: o "monstro" tem a sua paternidade em Aníbal Cavaco Silva; a desinflação dos anos 90 foi conseguida pela apreciação real (e por vezes mesmo nominal) do escudo, com o OE a "almofadar" as dificuldades.
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Mini pacote de wishful thinking. Era bom que o endividamento da economia portuguesa continuasse a um ritmo mais moderado e que os salários de topo não fossem tão elevados porque a desigualdade ricos-pobres é cada mais vergonhosa.
Nada das 3 páginas de texto inspira óptimismo. O défice externo e o endividamento crescente da economia portuguesa não pode conhecer um
hard landing qualquer? Silva Lopes observa: "Temos certamente de continuar a endividar-nos no exterior.
Não sabemos todavia qual é a margem que ainda nos resta. Antes de ela se esgotar, aparecerão substanciais aumentos de "spreads" nas taxas de juro exigidas pelos financiadores externos. Em qualquer caso,
seria altamente imprudente que viéssemos a gastar essa margem a ritmos mais acelerados do que no passado recente" (p. 9; sublinhados pessoais). Esta passagem é lúgubre: Daqui a algum tempo (1 ano? 3 anos? 10 anos?) acaba-se o crédito e, como vivemos à base de crédito alheio, vai ser o sarilho total? Não conhecemos a data do Armagedon, mas iremos ter alguns sinais: o aumento dos "spreads", ou seja, o encarecimento do crédito que ainda vamos conseguindo, relativamente ao preço do dinheiro noutras paragens da Zona Euro... Silva Lopes aconselha a não abusarmos no "consumo do azeite": ao menos que não aceleremos o acesso ao crédito.
Numa entrevista Silva Lopes analisava 2 empurrões recentes da economia portuguesa: o afluxo de IDE a seguir à adesão à CEE (Portugal estava na moda, não era?) e a quebra das taxas de juro, com o correspondente boom de endividamento e do consumo público e privado. E o economista observava que não vislumbrava nenhum empurrão para o futuro próximo. No artigo de hoje, subentende-se que o autor continua a não vislumbrar nenhuma luz ao fundo do túnel.
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