Ricardo Lacerda
Uma das marcas distintivas da primeira década dos anos 2000 foi a intensa geração de emprego formal no país. A expansão do mercado de consumo de massa a partir da incorporação de milhões de famílias aos circuitos de crédito foi causa e, mais adiante, consequência da geração de emprego formal e da elevação dos rendimentos da base da classe trabalhadora. Na comparação entre 2000 e 2010, foram criados 17.839.726 postos formais de trabalho. Na década anterior haviam sido criados 3.029.973.
É sintomático do caráter inclusivo da expansão do mercado de trabalho no período o crescimento mais intenso, proporcionalmente, do emprego formal nas regiões mais pobres. O Nordeste, que respondia em 2000 por 16,7% dos empregos formais, contribuiu com 20,4% dos empregos gerados na década, enquanto a região mais próspera, o Sudeste, que participava com 53,5% do emprego formal em 2000, gerou 47,2% dos novos empregos.
Ao longo da década, foram criados 3.635.989 novos empregos formais na economia nordestina, frente a modestos 703.993 nos anos noventa. Mesmo nos anos mais difíceis da crise financeira internacional, a economia regional continuou a expandir o emprego a taxas robustas.
Os especialistas não chegaram a um consenso a respeito das razões que provocaram um processo tão intenso de formalização do mercado de trabalho, com o emprego formal crescendo a taxas muito mais acentuadas do que a ocupação informal. Aparentemente, a expansão das empresas existentes e a criação de novas empresas para atender o crescimento do mercado de consumo pressionaram o mercado de trabalho, atraindo para a formalidade pessoas que até então se encontravam na informalidade. Não se deve menosprezar, todavia, a importância dos programas voltados para o registro formal das pequenas empresas.
Sergipe
Em Sergipe, os resultados do emprego formal também foram superlativos. Entre 2000 e 2010, novos 163.525 postos de trabalho no mercado formal foram criados, quando nos anos noventa o incremento se limitou 23.522. Enquanto o emprego formal na economia sergipana cresceu ao ritmo médio anual de 1,2% nos anos noventa, na década de 2000 passou a crescer 6,0% ao ano.
A aceleração do crescimento do emprego foi generalizada, como se pode constatar na tabela apresentada. Mas a principal inversão de tendência se concentrou na indústria de transformação e na construção civil. Enquanto nos anos noventa a abertura comercial acompanhada da intensa valorização da moeda nacional destruiu milhares de empregos na indústria de transformação sergipana, fazendo com que o estoque de empregos formais recuasse em 2.434 unidades, na década de 2000 foram acrescentados 19.154 novos postos formais de trabalho.
A contrução civil, impulsionada pela retomada dos investimentos em infraestrutura e pela expansão dos investimentos habitacionais, apresentou uma recuperação notável, passando a contratar firmemente a partir de 2006. Ao longo da década empregou 17.682 pessoas a mais, quando nos anos noventa havia destruído 1.732 postos de trabalho.
Na indústria de transformação, a fabricação de calçados, com diversas unidades no interior do estado, foi a que mais ampliou o emprego, seguida pela indústria química. Mesmo a atividade têxtil que havia fechado 4.518 postos de trabalho na década anterior, voltou a empregar, gerando 1.688 novos empregos entre 2000 e 2010.
Impulsionadas pelo aumento do poder de compra da população, as atividades comerciais se expandiram intensamente fazendo com o emprego formal no segmento quase tenha dobrado ao longo da década saltando de 29.163, em 2000, para 56.221.
Não menos impressionante foi a expansão do emprego no setor de serviços, se aproximando de quarenta mil empregos adicionais. Em atividades do setor de serviços o nível de emprego que havia despencado na década anterior apresentou crescimento robusto na década de 2000. O segmento de alojamento e comunicação, que abrange parcela do setor de turismo, que havia destruído 6.553 postos de trabalho nos anos noventa, criou 11.439 novos empregos entre 2000 e 2010.
Não menos notável, reconheça-se, foi a expansão do emprego no setor público, em suas três esferas de governo, e nos serviços terceirizados. O emprego público saltou de 79.133, em 2000, para 118.554, em 2010.
Finalmente, com a retomada da atividade sucroalcooleira, a partir da instalação de novas usinas de etanol, o emprego formal no setor agropecuário quase dobrou.
Tabela: Emprego Formal em Sergipe. 1990, 2000 e 2010
| Número de empregos | Variação do emprego |
Setores de atividade | 1990 | 2000 | 2010 | 1990 a 2000 | 2000 a 2010 |
1 - Extrativa mineral | 1.235 | 1.287 | 4.600 | 52 | 3.313 |
2 - Indústria de transformação | 24.757 | 22.323 | 41.477 | -2.434 | 19.154 |
3 - Servicos industriais de utilidade pública | 3.342 | 3.024 | 6.095 | -318 | 3.071 |
4 - Construção Civil | 12.763 | 11.031 | 28.713 | -1.732 | 17.682 |
5 – Comércio | 19.556 | 29.163 | 56.221 | 9.607 | 27.058 |
6 – Serviços | 42.583 | 52.720 | 100.189 | 10.137 | 47.469 |
7 - Administração Pública | 69.086 | 79.133 | 118.554 | 10.047 | 39.421 |
8 – Agropecuária | 1.734 | 7.373 | 13.730 | 5.639 | 6.357 |
Não Classificados | 7.476 | - | - | -7.476 | - |
Total | 182.532 | 206.054 | 369.579 | 23.522 | 163.525 |
Fonte: MTE-RAIS
Publicado no Jornal da Cidade, em 27/07/2014
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